terça-feira, 20 de outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Sacerdócio na História (Parte I)

"Os Padres da Igreja"
André Bernardo

Os livros de História ensinam que a Antiguidade é o período que abrange desde a invenção da escrita, por volta de 4 mil a.C., até a queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C. Para a Igreja Católica, o período conhecido como ‘Patrística’ vai do século 1 d.C., que marca o início da Era Cristã, segundo o calendário gregoriano, à morte do Papa Gregório Magno, em 604 d.C. O termo ‘Patrística’, aliás, se refere aos ‘Padres da Igreja’ – teólogos que desfrutavam de inquestionável autoridade eclesiástica em termos de doutrina, como Santo Agostinho, São Jerônimo e Santo Ambrósio, entre outros. Mas, ao contrário do que o título dá a entender, nem todos os ‘Padres da Igreja’ foram, por assim dizer, padres. “Alguns eram sacerdotes, sim, mas muitos foram bispos, diáconos e até leigos”, explica Dom Justino de Almeida Bueno, mestre em Teologia e Professor de Patrologia da Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro. O título de padre, inclusive, só começou a ser difundido entre as comunidades cristãs a partir da Idade Média. Na Antiguidade, esclarece Francisco José Silva Gomes, Professor de História Antiga e Medieval da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o termo mais usado para designar a figura sacerdotal era presbítero. “Logo, os presbíteros começaram a ser chamados de ‘pai’ pelos fiéis. A partir da Idade Média, a palavra ‘padre’ se impôs e a ‘presbítero’ caiu em desuso. Hoje em dia, há quem pense que presbítero é o sacerdote da Igreja Presbiteriana”, observa Francisco José. Segundo os especialistas, a Patrística pode ser dividida em dois momentos: o período Pré-Niceno – anterior ao Concílio de Nicéia, de 325 d.C. – e o período Pós-Niceno.


Os três primeiros séculos do Cristianismo não foram nada fáceis. Muito pelo contrário. A começar por Nero, em 64 d.C., gerações e mais gerações de imperadores romanos dedicaram suas vidas a perseguir implacavelmente os cristãos. Muitos preferiam morrer como mártires a renunciar à fé em Cristo. “Até o século IV, o cristianismo era considerado ilegal e, por isso mesmo, seus seguidores eram perseguidos. Muitos eram acusados de sedição, impiedade e ateísmo por não cultuarem deuses e imperadores. Nesta situação, os sacerdotes eram líderes de comunidades isoladas. Eles se destacavam como pregadores, mas ainda não havia formação específica ou dedicação exclusiva”, afirma Pedro Paulo Abreu Funari, Professor de Pós-Graduação em Arqueologia da Universidade de São Paulo (USP) e Professor de História da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Encorajados pelos ensinamentos dos apóstolos, as primeiras comunidades cristãs logo estabeleceram um modelo de governo eclesiástico e nomearam bispos, presbíteros e diáconos para ensinar a palavra e difundir a fé. “Desde os primórdios, as missas consistiam no centro da vida religiosa da comunidade cristã”, acentua Pedro Funari.


Ainda no século I, os primeiros cristãos desenvolveram um tipo de culto – muito semelhante ao atual. As primeiras comunidades se reuniam aos domingos, o Dia da Ressurreição, em vez do sábado, o Sabbat judeu. Nestas reuniões, celebravam a Eucaristia, estudavam as Escrituras e entoavam hinos de louvor. Na época, não havia igrejas ou basílicas. Com medo de ataques e perseguições, reuniam-se nas casas uns dos outros. “Até o século IV, não havia paróquias, no sentido estrito da palavra, porque os edifícios de culto, ou igrejas, eram proibidos. Os primeiros cristãos só podiam oficiar o culto em lugares privados, às escondidas”, ressalta Pedro Funari. “Nesta época, ainda não havia celebração litúrgica para os dias da semana. A liturgia era dominical ou, então, em ocasiões especiais, como na Páscoa, em Pentecostes ou, a partir do século IV, no Natal”, esclarece Francisco José. Embora os primeiros cristãos tivessem que se reunir às escondidas, não procede a história de que muitos deles eram obrigados a se refugiar em catacumbas para fazer celebrações litúrgicas. Quem garante é Francisco José: “As catacumbas eram cemitérios coletivos e, como tal, tinham que ter licença do governo para servirem de necrópole (cidade dos mortos). Além disso, eram lugares fiscalizados pelas autoridades romanas”.


Mas e como eram essas primeiras celebrações litúrgicas? Segundo estudiosos, os cristãos se reuniam, geralmente, pela manhã. Na assembleia, liam os profetas judeus, mas também os Atos dos Apóstolos e os Evangelhos. A certa altura, os presbíteros (ou bispos, em cidades como Roma, Antioquia e Alexandria) comentavam os textos lidos e os fiéis teciam comentários ou faziam observações a respeito da leitura. Por vezes, alguns membros discordavam das interpretações das Escrituras. Cabia ao bispo desfazer qualquer mal-entendido com base na Sagrada Escritura e na Tradição Oral (transmitida pelos apóstolos). Depois de comentar o texto sagrado, bispos e presbíteros abençoavam o pão e o vinho e os distribuíam entre os presentes. Ao término da celebração, os diáconos ficavam responsáveis por levar pão e vinho a quem não pôde comparecer à reunião. Nas primeiras comunidades cristãs, alguns presbíteros eram casados e tinham filhos. E se dedicavam a atividades paralelas para garantir o sustento da família. “O celibato já era valorizado desde os primórdios. Paulo recomenda o celibato, mas não o exige. Neste período, o celibato era apenas uma tendência e, não, uma lei”, salienta Paulo Augusto de Souza Nogueira, Professor de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). “Nos primórdios do cristianismo, os padres não só podiam ser casados, como muitos eram. Pedro é um exemplo clássico. Ele tinha até sogra!”, lembra Francisco José.


Nos primeiros séculos do Cristianismo, os presbíteros, a exemplo dos demais clérigos, não se trajavam de modo distintivo. Só abriam exceção quando vestiam sua melhor túnica para a celebração litúrgica. “A partir do século V, os costumes romanos passaram a influenciar a indumentária clerical. Desde então, as vestes litúrgicas começaram a se distinguir das roupas do cotidiano. Os bispos usavam uma indumentária e os presbíteros, outra. Mas posso assegurar que as vestes católicas mantiveram uma tradição fantástica. A iconografia da época mostra que não há praticamente diferença entre a indumentária do século V e a do século XXI”, afirma Francisco José.

- Santo Agostinho, Padre e Doutor da Igreja

A implacável perseguição romana durou até 313 d.C. Neste ano, o imperador Constantino promulgou o famoso Edito de Milão, que concedia liberdade de culto a todos os cristãos. Em 380 d.C, foi ainda mais longe. E proclamou o Cristianismo como religião oficial do Estado. A partir de então, passou a usar símbolos cristãos em suas moedas, declarou o dia de domingo como o dia do descanso e, principalmente, começou a construir basílicas, como a de São Pedro, em Roma. “Tudo mudou muito a partir do século IV. Igrejas foram legalizadas e passaram a ocupar lugares públicos de destaque. A hierarquia eclesiástica, que ainda era muito incipiente, desenvolveu-se rapidamente. Os sacerdotes passaram a ter formação, embora ainda não houvesse seminários”, explica Pedro Funari, da USP e da UNICAMP. Com o fim da perseguição romana, surgiu a necessidade de codificar as doutrinas básicas da Igreja Cristã. Pior do que a espada dos romanos, só mesmo a língua dos hereges. Foi o próprio imperador Constantino, aliás, quem convocou o concílio de Nicéia – atual Iznik, na Turquia –, em 325 d.C. Dos 1.800 bispos convocados, apenas 250 compareceram ao primeiro grande concílio ecumênico da História. Dali em diante, outros concílios seriam realizados sempre em momentos de grave tensão teológica e pastoral com o propósito de resolver problemas que afetavam a Igreja. Não por acaso, Agostinho pode ser considerado uma das figuras mais atuantes da Patrística. “Santo Agostinho morreu em 430 d.C., mas desperta fascínio até hoje. A quantidade de livros que são escritos sobre ele é impressionante. Até na China, tem gente escrevendo tese sobre Santo Agostinho”, afirma Dom Justino de Almeida Bueno.


A partir do século IV, cada membro da comunidade passou a fazer uma pequena contribuição (dízimo) ao bispo, que ficava responsável por administrar o dinheiro da Igreja. Em cada diocese, o dinheiro arrecadado servia para custear as despesas dos clérigos, manter o funcionamento da igreja e atender a necessidade dos menos favorecidos. Esmolas eram pagas regularmente a viúvas e órfãos. Cada diocese mantinha um hospital que, a exemplo dos mosteiros, oferecia abrigo para pobres, doentes e viajantes. Cada bispo dirigia também uma escola particular, onde educava os aspirantes a presbíteros e diáconos. “Alguns padres viviam em suas próprias casas, com suas respectivas famílias. Outros moravam com o bispo, como é o caso de Agostinho em Hipona. Nestes casos, os padres dependiam exclusivamente do que recebiam dos bispos. Seminários, por exemplo, nunca existiram antes do século XVI. A educação formal dos padres era de responsabilidade dos bispos”, esclarece Francisco José. Já nesta época, as primeiras comunidades cristãs foram buscar inspiração num antigo costume romano de adoção para instituir a tonsura. O hábito de raspar a cabeça do clérigo – presbítero ou diácono – indicava que ele tinha sido “adotado” na família de um bispo.

Sacerdócio na História (Parte II)

Padres na Idade Média

Idade Média é o período histórico que abrange desde a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, até a tomada de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, em 1453. Ao longo de seus quase mil anos de História, o período medieval ficou conhecido, entre outras características, pela fundação de universidades, pelo florescimento da cultura, pelo renascimento das artes e, principalmente, pela expansão do Cristianismo. O professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), André Chevitarese, é dos que afirmam que nem tudo no período medieval ligado à Igreja Católica se resume à Inquisição – tribunal eclesiástico instituído em 1231 com o objetivo de combater heresias – ou às cruzadas – expedições militares que levaram milhares de cavaleiros cristãos à Palestina para reconquistar lugares sagrados, como Jerusalém. “Do ponto de vista histórico-cultural, o período medieval foi o grande responsável pela perpetuação da memória através da transcrição de textos antigos. Se não fosse o trabalho de inúmeros monges copistas, não teríamos muita coisa a falar sobre períodos anteriores a Gutenberg”, valoriza Chevitarese.

- São Bento

De fato, transcrever textos da Antiguidade, principalmente os clássicos gregos e romanos, era uma das principais atribuições de algumas ordens monásticas, como os beneditinos, por exemplo. Segundo as normas estabelecidas por São Bento, em 525, os monges deveriam estudar, trabalhar e rezar. Não por acaso, “ora e labora” é a regra monástica da Ordem Beneditina. “O ócio é inimigo da alma”, alertava São Bento. Os mosteiros da Idade Média pareciam verdadeiras cidades. Tinham uma igreja ao centro, dormitório (geralmente dividido em celas), refeitório, biblioteca, oficina e até um abrigo para peregrinos. “Há uma leitura de que a classe religiosa seria vista unicamente como exploradora na medida em que era proprietária de terras. Poucos sabem, porém, que era através do dinheiro dos impostos que os monges podiam comprar papiros e manter grandes bibliotecas”, esclarece Chevitarese. Nos mosteiros, além de copiar documentos antigos, os monges trabalhavam, ainda, no cultivo de trigo, cevada e centeio, e na criação de porcos, vacas e galinhas.


Professor de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Frei Izidoro Mazzarolo concorda com André Chevitarese. Segundo ele, a Idade Média foi muito mais do que simplesmente cruzadas e Inquisição. Foi no período medieval, inclusive, que surgiram algumas das mais importantes ordens religiosas, como os franciscanos e os dominicanos. “A principal característica da figura sacerdotal na Idade Média é a volta às origens. Estou me referindo àquele segmento religioso que se propunha a imitar radicalmente a figura do Cristo. O mesmo Cristo que, segundo o Evangelho, não tinha onde repousar a cabeça”, analisa Frei Isidoro Mazzarolo, numa referência ao Evangelho de Mateus 8, 20. “Cada uma dessas ordens religiosas tinha uma característica especial. Enquanto os dominicanos priorizavam o ensino acadêmico, os franciscanos se destacavam pelo serviço aos pobres”, explica.

- São Domingos
São Domingos e São Francisco de Assis foram, indiscutivelmente, dois dos maiores representantes da Igreja Católica no período medieval. A Ordem dos Frades Menores, fundada por São Francisco em 1209, e a Ordem dos Pregadores, por São Domingos em 1215, significaram uma mudança em relação às ordens monásticas tradicionais. Ao contrário dos beneditinos, que viviam em mosteiros e abadias, franciscanos e dominicanos moravam em conventos, geralmente mais próximos às cidades. “Tanto os monges quanto os frades têm características semelhantes: há membros que são ordenados e membros que não são. Internamente, são todos iguais. Todos se chamam de irmãos. A diferença é que, enquanto uns podem celebrar a missa, outros se dedicam apenas a cuidar de serviços internos”, destaca Frei Isidoro.


Mas e os chamados padres diocesanos? Qual seria a principal diferença deles em relação aos padres religiosos? É o próprio Frei Isidoro quem responde: “Os padres religiosos, como os franciscanos e dominicanos, dependem de um superior eleito pelos membros daquela comunidade. Já os diocesanos não escolhem, em tese, seu bispo. O bispo é nomeado pelo papa ou pelo núncio apostólico (embaixador da Santa Sé). Além disso, outra característica marcante das ordens religiosas é a mobilidade. Normalmente, os padres diocesanos trabalham por muitos anos em uma mesma diocese. Já os religiosos não têm endereço certo. Podem trabalhar em muitas dioceses”, compara Frei Isidoro. Diocesanos ou religiosos, os padres viram crescer (e muito!) o número de fiéis na Idade Média. Naquela época, a população assistia à missa não só aos domingos, mas também nos dias santos. Embora só os padres, monges e frades tivessem a oportunidade de comungar todos os dias, a Igreja Católica já recomendava que todo cristão recebesse a Eucaristia, pelo menos, por ocasião da Páscoa. No período medieval, a missa era celebrada em latim e, em algumas basílicas, já havia um coro que entoava cânticos religiosos – também em latim. A assembleia não participava ativamente da celebração. Em algumas paróquias, os padres franciscanos faziam uma invocação a Deus e a comunidade respondia: “Laudate Dominum” – que significa “Louvai ao Senhor”. O sermão já não era mais o único modo de se pregar a Palavra de Deus para uma população quase toda ela composta por camponeses analfabetos. Temas bíblicos eram talhados nas paredes e pintados nos vitrais das igrejas com o objetivo de ensinar, quase que didaticamente, passagens do Antigo e do Novo Testamento para as camadas mais humildes da sociedade. Imagens de santos começaram a ser usados em lugares de destaque nas igrejas para encorajar os fiéis a imitá-los no amor a Deus.


As obrigações dos padres eram as mais variadas possíveis: de celebrar a missa a coletar o dízimo, de visitar os doentes a abençoar as colheitas da paróquia. No século XIV, algumas paróquias já tinham, inclusive, pequenas escolas, dirigidas pelos próprios padres ou pelo sacristão. Lá, os clérigos ensinavam às crianças, basicamente, o Pai-Nosso, a Ave Maria, o Credo, os dez mandamentos e os sete pecados capitais. “Na Idade Média, os padres diocesanos já viviam exclusivamente do ministério. Mas isso não impedia que, por exceção, alguns também exercessem atividades paralelas. É como acontece nos dias de hoje, quando muitos padres diocesanos também lecionam em universidades”, ressalta Frei Isidoro Mazzarolo.


Com tantos afazeres, os padres ainda conseguiam se dividir entre o matrimônio e o sacerdócio? “O celibato começou a ser discutido no século IV, mas só foi homologado no século XII. Até a homologação do celibato, ele era opcional. A partir do século VII, passou a ser aconselhado. Mas, no século XII, o celibato foi sacramentado. Ainda hoje, no Oriente, os sacerdotes têm duas opções: o celibatário e o casado. Mas há um detalhe importante: só os celibatários podem seguir carreira episcopal”, esclarece Frei Isidoro. Mas e o que pensam os historiadores da tese de que os padres não podem casar para não dividir os bens da Igreja? Para André Chevitarese, essa tese não passa de um “equívoco”. “A questão do casar ou não casar se aplica a uma passagem do Evangelho onde Jesus diz: ‘Há eunucos que nasceram eunucos e outros que se fizeram eunucos por causa do Reino do Céu’ (Mt 19,12). Nesta passagem, Jesus estabelece modelos de vida religiosa. É preciso que se entenda que toda e qualquer decisão da Igreja é respaldada em contextos bíblicos. Dizer que os padres não podem casar para evitar brigas judiciais é remeter a Igreja a uma esfera estritamente humana”, assegura Chevitarese.


E, na Idade Moderna, como viviam os padres? Quem foi Martinho Lutero e o que significou a Reforma Protestante? E a Contra-Reforma, o que foi? Qual é a importância do Concílio de Trento para a Igreja Católica? É verdade que os primeiros seminários surgiram na Idade Moderna?

Fonte: http://www.arquidiocese.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2178&sid=39

Sacerdócio na História (Parte III)

Padres na Idade da Reforma

A Idade Moderna é o período compreendido entre a queda do Império Romano do Oriente, em 1453, e a Revolução Francesa, em 1789. Ao contrário da Idade Média, que totaliza quase um milênio, a Idade Moderna durou pouco mais de 300 anos. Mesmo assim, pode ser considerada uma das fases mais importantes da Igreja Católica. Prova disso é que foi durante a Idade Moderna – mais precisamente a partir de 1563 – que surgiram os primeiros seminários.

“Na Idade Média, a maioria dos padres ainda não tinha conhecimento acadêmico ou formação teológica. Muitos eram analfabetos e não sabiam, sequer, ler o Novo Testamento. Mas isso não inviabilizou o fato de eles se sentirem chamados por Deus para pastorear o seu rebanho”, ressalva o Professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), André Chevitarese.

Numa época marcada por uma crescente alfabetização – como a Idade Moderna –, muitos padres não conseguiram mais corresponder às expectativas do povo cristão. “Na maioria das vezes, os candidatos ao baixo clero recebiam uma formação prática, em que o pároco ensinava suas funções, sem deter-se em aspectos teológicos”, reforça o Professor de Ciência da Religião da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), Douglas Nassif Cardoso.

A criação de seminários para cuidar da formação dos futuros padres foi apenas uma das decisões tomadas pela Igreja no famoso Concílio de Trento – realizado na cidade de mesmo nome, ao norte da Itália, entre os anos de 1545 e 1563. Segundo o Assessor da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Padre Reginaldo de Lima, o Concílio de Trento apresentou “um conjunto de decisões destinadas a garantir a unidade da fé católica e a disciplina eclesiástica”.

“Reagindo às ideias protestantes, o Concílio de Trento reafirmou diversos pontos da doutrina católica, como a salvação humana, a fixação dos sete sacramentos e a manutenção do celibato. Em Trento, o Papa reafirmou sua posição de sucessor de Pedro – a quem Jesus Cristo confiou a construção de sua Igreja”, enfatiza Padre Reginaldo de Lima.


- O Concílio de Trento

Convocado pelo Papa Paulo III, em 1545, o Concílio de Trento reuniu, em sua sessão inaugural, apenas 30 bispos católicos e uns poucos teólogos luteranos. Neste dia, foram discutidos temas importantes como a justificação pela fé e pelas boas obras, a obrigação dos bispos de residir nas dioceses, a reafirmação do Credo Niceno como a base da fé cristã e a fixação dos sacramentos em sete: Batismo, Confirmação ou Crisma, Comunhão ou Eucaristia, Reconciliação ou Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio.

Com algumas interrupções, o Concílio de Trento durou, ao todo, 18 anos. Na última sessão, realizada em 1562, defendeu a crença no livre-arbítrio do homem e refutou a tese luterana da fé exclusiva. Para a Igreja Católica, a esperança e a caridade também são necessárias à salvação. Quando o Concílio de Trento foi finalmente encerrado, em 1563, os 255 bispos presentes à cerimônia pediram ao Papa que instituísse um catecismo (originalmente apenas para uso dos párocos) com os pontos fundamentais da doutrina católica. “O Concílio de Trento foi a grande Reforma Católica. Foi o concílio mais longo e suas decisões foram as mais duradouras da Igreja. O concílio seguinte (Vaticano I) realizou-se apenas na segunda metade do século XIX”, afirma o Professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Ziller Camenietzki.

A Reforma Católica injetou ânimo novo em todos os segmentos da Igreja. Os padres começaram a encorajar os fiéis a se confessar mais habitualmente e a nutrir especial devoção ao sacramento da Eucaristia. Magníficas custódias – nome dado aos ostensórios, geralmente de ouro ou de prata, nos quais se depositam a hóstia consagrada para adoração dos fiéis – passaram a ocupar lugar de destaque dentro das igrejas e basílicas. Logo, procissões eucarísticas se tornaram cada vez mais populares. “A Igreja Católica reafirmou que, no ato da Eucaristia, ocorre a presença real de Cristo no Pão e no Vinho”, explica Padre Reginaldo de Lima, da CNBB, “Essa presença real do Cristo na Eucaristia era rejeitada pelos protestantes”.

Por inspiração do Concílio de Trento, a literatura devocional tornou-se mais acessível à população. Embora Roma – a princípio – desencorajasse a leitura leiga da Bíblia e se apegasse à Vulgata latina, em 1752 novas traduções foram permitidas pela Igreja Católica desde que com a devida autorização eclesiástica. No final do século XVIII, a Bíblia já havia sido traduzida para mais de 70 idiomas, como alemão, italiano, espanhol, francês e português.

No campo da música, o Concílio de Trento proibiu o uso de melodias profanas em contexto sacro. E recomendou que as letras fossem mais edificantes e inteligíveis. O final do século XVII testemunhou o florescimento da música sacra. Hinos, motetos e salmodias tornaram-se populares. As cidades começaram a competir entre si para ver qual delas tinha o melhor coro e a melhor orquestra. Concertos sacros com música baseada em textos bíblicos passaram a ser executados nos oratórios (capelas de oração). Em pouco tempo, o alemão George Friedrich Häendel tornou-se o maior de todos os compositores de oratórios.

A Idade Moderna foi marcada também pelo surgimento de novas ordens religiosas. “As diversas ordens fundadas no século XVI, como capuchinhos, lazaritas e barnabitas, entre outras, representavam movimentos reformadores fiéis à tradição do papado e em oposição aos diversos tipos de protestantismo”, analisa o Professor Douglas Nassif Cardoso, da UMESP. Das novas ordens, a que causou mais impacto foi a Companhia de Jesus, fundada na primeira metade do século XVI por Inácio de Loyola. Além de fazer votos de pobreza, obediência e castidade, os jesuítas juravam obedecer ao Papa e empreender qualquer tarefa que o Sumo Pontífice julgasse necessária.


- Santo Inácio de Loyola

“Os jesuítas foram os grandes combatentes da Reforma Católica. Eles encarnaram as propostas do Concílio de reorganização centralizada da Igreja ao missionarem por todos os lugares do mundo onde conseguiram chegar. Eles deram um tom prático às propostas de reforma da Igreja Católica”, afirma o Prof. Carlos Ziller Camenietzki, da UFRJ. De fato, missionários cristãos – principalmente frades dominicanos, franciscanos, agostinianos e, mais tarde, jesuítas – começaram a levar a Palavra de Deus aos confins mais distantes da Terra, como Índia, Japão e China. Além de países da América Latina, como o Brasil. “A catequese dos povos recém-descobertos era uma das estratégias dos jesuítas para expandir o domínio católico”, resume o Padre Reginaldo de Lima.

E, na Idade Contemporânea, como viviam os padres? Quem foi João Batista Maria Vianney, o Cura D’Ars? Qual é a importância do Concílio Vaticano II para a Igreja Católica? É verdade que a missa deixou de ser celebrada em latim durante a Idade Contemporânea? Quais são os principais desafios a ser enfrentados pelos padres no século XXI? Não percam essas e outras respostas na quarta e última parte da série especial sobre o Ano Sacerdotal na próxima terça-feira...

O Sacerdócio na História (Parte IV)

Os Padres na Idade Contemporânea

A Idade Contemporânea teve início com a Revolução Francesa, em 1789, e se estende até os dias de hoje. A Revolução Francesa é um movimento político e social que transformou profundamente a França de 1789 a 1799. Sob o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, a burguesia revoltou-se contra a monarquia absolutista e, com o apoio popular, assumiu o poder. Entre outras medidas, os revolucionários acabaram com os privilégios da nobreza e do clero e livraram-se das instituições feudais do antigo regime.

“A partir da Revolução Francesa, houve uma separação entre Igreja e Estado. Com isso, os padres deixaram de ter uma renda assegurada pelo Estado. Por um lado, os sacerdotes tomaram consciência de que é preciso haver dedicação plena ao ministério. Por outro, os fiéis tomaram consciência de que é preciso sustentar o clero a partir de um dízimo, uma contribuição. Neste sentido, ganhou-se bastante com essa separação”, analisa o Padre Jesus Hortal Sánchez, Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

O final do século XVIII assistiu a uma assustadora tentativa de destruir o Cristianismo na França. O ataque começou logo após a tomada da Bastilha, episódio que marcou o início da Revolução Francesa. Os privilégios eclesiásticos foram abolidos e as propriedades da Igreja, nacionalizadas. Logo, o novo regime começou a interferir, também, na vida interna da Igreja ao declarar que padres e bispos deveriam ser eleitos por leigos. Pior: passou a restringir, ainda mais, a autoridade do Papa sobre a Igreja Católica na França. Durante o regime de terror, clérigos foram banidos e igrejas, saqueadas. Muitos padres e bispos perderam a cabeça sob a guilhotina acusados de contra-revolucionários.

Em meio ao turbilhão que tomou conta da França no final do século XVIII e início do XIX, um pastor apascentava calmamente o seu rebanho: João Batista Maria Vianney, o homem que se tornaria o padroeiro dos párocos. Ordenado padre em 1815, aos 29 anos, o Cura D’Ars é tido como um exemplo a ser seguido pelos sacerdotes. Incansável defensor do Sacramento da Penitência, era capaz de passar até 18 horas consecutivas ouvindo confissões e perdoando pecados. Logo, ficou famoso por sua humildade e sabedoria, expressas em frases como “É sempre primavera no coração que ama a Deus” e “Arrepender-se é sempre começar de novo”.

“João Batista Maria Vianney transformou-se num dos mais competentes confessores que a Igreja já teve. Inicialmente, não achavam que ele pudesse exercer essa função, devido a sua pouca instrução. Mesmo assim, ele se mostrou esforçado e perseverante. No confessionário, possuía uma forma elevada de ver as coisas, que se manifestava nos conselhos que dava aos fiéis. Por vezes, esquecia de si mesmo para doar-se aos outros. As palavras podem até marcar, mas os testemunhos arrastam. E, com certeza, João Batista Maria Vianney deixou um bonito testemunho para todos aqueles que optam por uma vida religiosa”, enaltece Juberto Santos, Professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A exemplo do que aconteceu nas Idades Média e Moderna, novas ordens missionárias continuaram a surgir na Idade Contemporânea, como os maristas (fundada em 1817) e os salesianos (em 1859). A essa altura, igrejas já haviam sido fundadas em quase todos os continentes. Mas os missionários fizeram mais do que levar a Palavra de Deus. Eles também alimentavam os famintos, abrigavam os órfãos, ensinavam os analfabetos, condenava os regimes de escravidão e denunciavam os de tráfico de drogas. Para eles, a ordem dada por Cristo aos seus primeiros discípulos de evangelizar todos os povos era, na verdade, uma ordem pessoal dada por Cristo aos cristãos de todas as épocas.

Mas aqueles que optaram por evangelizar todos os povos precisaram (e muito!) do testemunho de João Batista Maria Vianney para não desistir de seu ministério mesmo diante das muitas provações surgidas na Idade Contemporânea. O período é marcado não só pelos grandes movimentos revolucionários europeus que derrubaram o absolutismo, mas também pelo surgimento do imperialismo, por duas guerras de proporções mundiais, pela explosão da Guerra Fria e pelo fenômeno da globalização. Na antiga URSS, logo após a tomada do poder pelos comunistas, mais de mil padres e bispos foram executados e centenas de mosteiros, destruídos. Durante a Segunda Guerra Mundial, o terror se repetiu. Na maioria dos países sob ocupação nazista, como França, Holanda e Polônia, padres e freiras foram presos, torturados e mortos.

A Idade Contemporânea, no entanto, testemunhou também dois grandes momentos de renovado entusiasmo espiritual da Igreja Católica: os Concílios Vaticano I e II. Em 1870, durante o papado de Pio IX, a Igreja promulgou o Concílio Vaticano I – o primeiro desde o Concílio de Trento, de 1545. Nele, a Santa Sé definiu a infalibilidade papal. Em outras palavras, o Espírito Santo jamais permitiria que a Igreja incorresse em erro seja em ponto essencial da fé ou da moral. Uma curiosidade: o Papa Pio IX, nascido Giovanni Maria Mastai-Ferreti, é responsável pelo papado mais longo da História da Igreja. Ele reinou de 1846 a 1878 – ou, para ser mais exato, por 31 anos e 236 dias.


- Papa João XXIII

Já o Vaticano II foi convocado pelo Papa João XXIII, em 1962, e durou três anos. O Sumo Pontífice explicou que queria reunir os bispos para ‘por a Igreja em dia’ e proclamou os participantes a ‘buscar aquilo que une em vez daquilo que divide’. “O Concílio Vaticano II permitiu que a Igreja Católica entrasse em diálogo com o mundo contemporâneo. E, principalmente, com outras confissões cristãs”, destaca Douglas Nassif Cardoso, Professor de Ciências da Religião da Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).

Infelizmente, o Papa João XXIII morreu sem ver um dos momentos mais belos do Concílio Vaticano II. Em 7 de dezembro de 1965, o Papa Paulo VI (que sucedeu João XXIII) e o patriarca Atenágoras publicaram uma declaração conjunta lamentando os terríveis eventos que levaram ao Cisma de 1054: “Um dia virá em que todos os cristãos beberão do mesmo cálice”, declarou, na ocasião, o Papa Paulo VI. Era uma tentativa da Igreja Católica de reduzir uma divisão de 900 anos com a Igreja Ortodoxa. “Algumas pessoas estranharam as modificações feitas pelo Concílio Vaticano II, mas a Igreja é parte da Humanidade. Logo, se esta muda, aquela também precisa renovar os meios práticos e discursivos para continuar levando a mensagem do Evangelho”, analisa Carlos Engemann, Professor do Instituto Superior de Teologia do Rio de Janeiro.

Mas qual teria sido a mais notável modificação promovida pelo Concílio Vaticano II? Na opinião do Professor Carlos Engemann, foi a renovação litúrgica. Após ser rezada em latim por vários séculos, a missa poderia, a partir de então, ser celebrada na língua local do povo. “Partindo do princípio de que a liturgia é a fonte primordial onde o cristão deve beber, a renovação litúrgica para qual é convidado o povo pelo Concílio Vaticano II tem como principal objetivo ensejar a participação. Isso nos trouxe uma mudança bastante interessante. Nos tempos dos mais velhos, dizia-se ‘ouvir a missa’. Depois, passou-se a dizer ‘assistir a missa’. Agora, o mais frequente entre os católicos é dizer ‘participar da missa’. E não se trata apenas de uma mudança linguística”, assegura Engemann.

Atualmente, segundo estimativas do Anuário Estatístico da Igreja Católica, cerca de 17,3% da população mundial “participa da missa”. Esse percentual corresponde a 1 bilhão e 115 milhões de católicos. De acordo com o mesmo levantamento, o número de sacerdotes católicos, em 2006, é de 407.262. Deste total, 271.091 são diocesanos e 136 mil, religiosos. Para o Professor Carlos Engemann, os desafios enfrentados hoje pelos padres da Idade Contemporânea são os mesmos enfrentados por seus antecessores nas Idades Antiga, Média e Moderna: “amar o povo que pastoreia e ser para ele o Bom Pastor”.

O Padre Jesus Hortal, da PUC-RJ, concorda. Em sua opinião, o padre do século XXI deve ser alguém com “plena consciência da relevância do seu papel de presença do Cristo no meio dos fiéis”. “O padre do século XXI deve ser alguém com uma consciência muito clara de sua dedicação plena ao ministério. E alguém absolutamente coerente com o que diz e o que faz. Talvez o maior desafio seja o de realizar uma evangelização eficaz no meio de uma sociedade altamente secularizada e cada vez mais afastada dos valores morais cristãos”, conclui.


Fonte:
http://www.arquidiocese.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2214&sid=39

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O PECADO



Podemos entender o pecado de várias formas, mas todos sabemos que o Pecado é a doença da Alma. São Tomás de Aquino, na Exposição do Credo, diz que há duas mortes: a primeira é a do corpo, física, quando a alma se separa dele; a segunda é a da alma, espiritual, quando esta se separa de Deus. A pior é a segunda, e tem como causa o pecado. A prática do mal faz parte da experiência humana desde sempre. Nas sociedades primitivas, aparece como transgressão às regras da comunidade, e por esta é castigada; nas sociedades politeístas, aparece como transgressão à ordem do mundo estabelecida pelos deuses, podendo provocar as suas iras. No Antigo Testamento (AT), aparece, sobretudo como violação da Aliança estabelecida por Javé com o seu povo, pelo incumprimento da Lei, levando Deus a deixar o povo à sua triste sorte até que, pelo arrependimento, lhe perdoe e o salve. No Novo Testamento, o conceito de pecado aprofunda-se: ele é desobediência e ofensa a Deus; entrou no mundo pela queda de Adão, tornando o homem sujeito ao poder de Satanás e levando-o à morte; mas a obediência de Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, enviado pelo Pai num rasgo de misericórdia, salvou-o da situação de perdição pelo sacrifício da cruz.

- O pecado original

A tendência para o mal é sentida, sobretudo por aqueles que se empenham em fazer o bem. A revelação veio projetar luz sobre tal situação, sobretudo com a narrativa da queda dos nossos primeiros pais (Gn 3,1-23). O magistério da Igreja interpreta-a como a sua cedência à tentação demoníaca de confronto com Deus, acarretando a perda da justiça original em que foram criados, com as prerrogativas da imortalidade e da felicidade. Tais tremendas conseqüências refletem-se na humanidade descendente deles, à qual deixaram de poder transmitir o que tinham desgraçadamente perdido. Mas Deus não podia ser vencido pela maldade das suas criaturas. Na sua misericórdia infinita, logo anunciou a salvação (“proto-evangelho”, Gn 1,15). Transformou assim a lamentável queda de Adão na “feliz culpa” (Exultet, do Precónio Pascal), por ter proporcionado a Deus o envio de seu Filho feito Homem a dar a vida em sacrifício de valor infinito, por amor dos homens, operando a sua salvação, e reparando as ofensas e as injúrias cometidas contra Ele pela queda original. (Conf. Catecismo da Igreja Católica [CIC] 385-412).

O Pecado é a transgressão voluntária da Lei de Deus. Pressupõe matéria proibida (ou estimada como tal), advertência e consentimento. Pode cometer-se por ato, omissão, pensamento ou desejo. É ofensa ao amor de Deus, que é infinitamente bom e amável (podendo eventualmente ser também ofensa ao amor do próximo e até de si mesmo, como no caso do suicídio); e é injúria ou lesão do direito de Deus a ser obedecido, tanto mais que Ele só pode querer o nosso bem (podendo também lesar o próximo nos seus direitos). “Se alguém vir seu irmão cometer pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore. Toda iniqüidade é pecado, e há pecado que não é para morte.” (1 Jo 5.16,17) Na tradição da Igreja, impôs-se a distinção entre pecado mortal (ou grave) e pecado venial (ou leve), distinguindo-se um do outro por natureza e não por simples grau.

Pecados Graves (mortais): São ofensas graves à Deus ou ao próximo. Apagam a caridade no coração do homem; desviam o homem de Deus. Quem morre em pecado grave (mortal) sem arrependimento, merece a morte eterna, conforme o testemunho da Escritura: "Há pecado que leva à morte" (I Jo 5,16b). O pecado mortal pressupõe matéria grave, plena consciência (do ato e da sua gravidade) e propósito deliberado. A matéria grave encontra-se precisada nos dez Mandamentos da Lei de Deus, segundo a resposta de Jesus ao jovem rico: “Não mates, não cometas adultério, não furtes, não levantes falsos testemunhos, não cometas fraudes, honra pai e mãe” (Mc 10,18). A gravidade da matéria depende das circunstâncias concretas, o mesmo se podendo dizer da plena consciência e do total consentimento. O pecado mortal degrada quem o pratica, quebra a amizade com Deus, faz perder a graça santificante e os méritos sobrenaturais adquiridos anteriormente e acarreta a pena eterna. A Igreja nos ensina que não podemos Comungar em pecado mortal sem antes se Confessar.

Pecados Leves (veniais): São ofensas leves a Deus e ao próximo. Embora ofendam a Deus, não destroem a amizade entre Ele e o homem. Quem morre em pecado leve não merece a morte eterna. "Toda iniqüidade é pecado, mas há pecado que não leva à morte" (I Jo 5, 17).O pecado venial não corta a amizade com Deus nem a graça santificante, não acarreta pena eterna, mas pena temporal. O pecado venial cometido por simples fragilidade, sempre que lamentado e combatido, pode mesmo despertar um esforço maior pela santificação própria, mantendo a pessoa na humildade e na paciência; pelo contrário, o pecado venial friamente deliberado enfraquece a caridade e predispõe para o pecado grave (Cf. CIC. 1846-1869). Merecem ainda referência às imperfeições, que se distinguem do pecado leve por serem atos de si bons que se preferem a outros melhores ou são praticados de maneira frouxa.

Pecados Capitais: O papa Gregório Magno no século VI instituiu os sete pecados capitais, que são os princípios que ferem a Deus, a você e ao próximo. Os sete pecados capitais são: Gula: consiste em comer além do necessário e a toda hora; Avareza: é a cobiça de bens materiais e dinheiro; Inveja: desejar atributos, status, posse e habilidades de outra pessoa; Ira: é a junção dos sentimentos de raiva, ódio, rancor que às vezes é incontrolável; Soberba: é caracterizado pela falta de humildade de uma pessoa, alguém que se acha auto-suficiente; Luxúria: apego aos prazeres carnais e bens materiais; Preguiça: aversão a qualquer tipo de trabalho ou esforço físico. Não há registro da enumeração dos sete pecados capitais na Bíblia Sagrada, todavia, esses pecados aparecem no decorrer dos mais de 70 livros. Pecados Capitais na era da globalização: Poluição do ambiente; Pedofilia; Agravamento da injustiça social; Tráfico de droga; Manipulação genética.

- A luta contra o pecado

É obrigação de todo o homem, e particularmente do cristão, lutar contra o pecado e contra tudo o que a ele conduz. Fazem parte dessa incessante luta a fuga das ocasiões, o fortalecimento espiritual pela freqüência dos sacramentos e pela oração, e o recurso aos diversos meios de santificação. Nas atuais condições de vida sociocultural, assumem especial agressividade as fontes do pecado, que tradicionalmente se chamam inimigos do homem: o mundo, o demônio e a carne. ''A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina.'' (1 Cor 1, 18)

O mundo também abriga mentiras, injustiças, rivalidades, violências, que tornam difícil à generalidade das pessoas discernir o que é bem e é mal, e levar uma vida honesta e santa. Caso particular é o dos pecados sociais, a que a Igreja está hoje mais atenta com o conhecimento mais vivo do que se passa pelo mundo em matéria de falsidades, injustiças e violências a que João Paulo II chamou “estruturas de pecado” (Enc. SRS 36, etc.). Todo o pecado pressupõe um agente livre e responsável, pelo que os pecados sociais resultam do somatório de muitas falhas morais dos membros duma determinada sociedade. A luta contra estes pecados faz-se pela purificação da maneira de pensar e viver da própria sociedade, pela projeção nela dos valores do Evangelho. O demônio, sempre atento às circunstâncias da vida dos homens, não descansa na procura dos meios mais subtis de os tentar. É fácil descobrir a sua interferência nos males denunciados pelo magistério, nomeadamente nas linhas dos atentados contra a vida humana, contra a família, contra o destino universal dos bens, contra o sentido de Deus na vida humana… A carne, como expressão da ânsia desordenada do prazer, encontra-se exacerbada na nossa sociedade, muito marcada pelo erotismo e pelo hedonismo no comer, no beber, no gozar a vida. Como no passado, em tempos difíceis, a resposta da Igreja incluirá a mobilização de espíritos carismáticos que dêem o alegre testemunho duma vida ascética muito consagrada ao serviço dos pobres.

- Pecado contra o Espírito Santo

CIC 1864 – “Aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não terá remissão para sempre. Pelo contrário, é culpado de um pecado eterno” (Mc 3,29). A misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento, rejeita o perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo (DeV 46). Semelhante endurecimento pode levar à impenitência final e à perdição eterna.

- O perdão dos pecados

O pecado original, que não é propriamente cometido, mas adquirido, apaga-se pelo Batismo, que perdoa ainda ao catecúmeno os pecados pessoais de que esteja arrependido. O sacramento da Penitência foi instituído para o perdão dos pecados graves aos pecadores arrependidos, embora seja também muito recomendado para o perdão dos pecados veniais. Para o perdão destes e das imperfeições, a Igreja dispõe ainda de outros meios, como o ato penitencial da Missa e a Comunhão sacramental. O ato de contrição perfeito, por motivo de caridade, também pode perdoar qualquer pecado, desde que, no caso de pecado grave, pressuponha o voto de confissão sacramental. Embora o Batismo elimine o pecado original, as suas seqüelas continuam em nós: os sofrimentos, a doença, a morte, a propensão ao pecado.

Os judeus não reconheceram Jesus como o Cristo de Deus, exatamente porque eles esperavam um Messias libertador político. Quando Jesus se apresentou como “Aquele que tira o pecado do mundo”, com o sacrifício de si mesmo, se escandalizaram e o pregaram na cruz como um farsante. Assim como a missão de Cristo foi libertar o homem do pecado, a missão da Igreja, que é o seu Corpo místico, a sua continuação na história, é também a de libertar a humanidade do pecado e levá-la à santificação. Fora disso a Igreja se esvazia e não cumpre a missão dada pelo Senhor.

Jesus, quer dizer, em hebraico, “Deus salva”. Salva dos pecados e da morte. Na Anunciação o Anjo disse a Maria: “... lhe porás o nome de Jesus”. (Lc 1, 31) A José, o mesmo Anjo disse: “Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados”. (Mt 1, 21) A salvação se dá pelo perdão dos pecados; e já que “só Deus pode perdoar os pecados” (Mc 2, 7), Ele enviou o Seu Filho para salvar o seu povo dos seus pecados. A primeira coisa que Jesus fez no dia da sua ressurreição foi enviar os Apóstolos para perdoar os pecados. “Como o Pai me enviou, eu vos envio a vós... Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 22´23).



Isto mostra que a grande missão de Jesus era, de fato, “tirar o pecado do mundo”, e Ele não teve dúvida de chegar até a morte trágica para isto. Agora, vivo e ressuscitado, vencedor do pecado e da mote, através do ministério da Igreja, dá o perdão a todos os homens. Como é grande e precioso o Sacramento da Confissão, chamado de Reconciliação! Pela absolvição do sacerdote, ministro do Senhor, recebemos o Seu próprio perdão, conquistado na obediência da cruz. Diante de nossos pecados, não adianta se desesperar ou desanimar; a única atitude correta é enfrentá-los com boa disposição interior e com a graça de Deus. São Francisco de Sales, bispo e doutor da Igreja, dizia que não adianta ficar “pisando a própria alma”, depois de ter caído no pecado.

Até mesmo os nossos pecados, aceitos com humildade, podem nos ajudar a crescer espiritualmente.

Juberto Santos

Somos Templos do Espírito Santo


Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é sagrado - e isto sois vós. Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se julga sábio à maneira deste mundo, faça-se louco para tornar-se sábio, porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois (diz a Escritura) ele apanhará os sábios na sua própria astúcia. E em outro lugar: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, e ele sabe que são vãos. (1 Cor 3, 16-20)

O mundo atual é muito corrido, o mundo da “rapidez”, da “bola”, dos “modismos”, da “banalização do ato sexual”, da “globalização”, “digital e virtual...” Hoje, vemos que o espírito mundano causa dissensões nas igrejas, tirando pessoas do caminho, desviando e até minando a nossa fé, como o próprio Jesus afirmou na parábola do Semeador (Mt 13, 4-30). A juventude sempre almeja a tão sonhada “liberdade”. Ser livre para andar sozinho, ter liberdade de chegar tarde em casa, de dormir em outros locais, de ter seu próprio dinheiro e ser independente... Todos sabem que os jovens precisam de espaço e que eles precisam crescer e amadurecer. Mas vem a pergunta: O que é ser livre?? Liberdade é apenas isso?? O mudo está cheio de prisões (Internet, televisão, rádio, modismos, alienações, consumismo, materialismo, drogas, violência, prostituições, competições, depressão...), logo, temos de nos posicionarmos perante ele. Jesus nos fala que teremos aflições e sofrimentos no mundo (Jo 16, 33), mas devemos ter sempre a Fé como guia e, assim como Ele: venceremos. Irmãos existem muitas tarefas a serem realizadas, mas são poucos aqueles que as aceitam, ou melhor, entendem o verdadeiro chamado de Deus.

Assim, nós somos os instrumentos onde o Senhor pega a água (nossas qualidades) e a areia (nossos defeitos) e os coloca a serviço do Reino. Existem várias passagens bíblicas que exaltam a figura daqueles que seguem verdadeiramente a vontade de Deus. A que eu mais aprecio está em Jeremias: “Eu te constitui profeta para as nações.” (Jr 1, 4-5). Sabemos que existe a igreja (templo) e a Igreja (comunidade de fiéis) e esta segunda é que deve ser exaltada, é ela que deve ser a base da Evangelização (1Cor 10, 17; 12, 12-27). A Igreja vê na juventude uma enorme força renovadora, símbolo da própria Igreja que é chamada a uma constante renovação!! Deus não quer homens e mulheres conformados com este mundo (Rm 12, 2); é preciso ir além e não tomar a forma dada por uma vida paganizada. É preciso sair das margens da Fé avançar para águas mais profundas!! Essa é a única maneira de discernir a vontade de Deus. Todo aquele que assume a Fé em Jesus, deve assumi-la incondicionalmente “Aquele que vive E crê em mim jamais morrerá” (Jo 11, 26). Sabemos também que Lúcifer, o diabo, por inveja, através do “mundo”, tenta nos afastar de Deus. O projeto do “encardido” visa que a felicidade da vida consiste em ter bens, poder, satisfação pessoal e prestigio principalmente. Precisamos saber discernir que o projeto de Jesus Cristo é outro! A vida consiste em ser filho, irmão, amado, servo, um povo livre. Os bens materiais não devem ter o primeiro lugar em nossas vidas (Mt 6, 19-21) e não devemos ter medo de seguir verdadeiramente a Jesus. Assim como Zaqueu (Lc 19, 8-10) devemos, na presença do Senhor, renunciar ao “mundo” e crer fielmente à Boa Nova. Não podemos ser como o “Jovem Rico”, que desistiu de seguir Jesus por possuir muitos bens (Mt 19, 16-25) Todo aquele que assume a Fé em Jesus, deve assumi-la incondicionalmente (Jo 11, 26) e, assim, não podemos ficar em cima do muro (Ap 3, 16), nem brincar se ser Igreja!!! "Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou." (1Jo 2, 6)

Jovem, não podemos brincar se ser Igreja!!! Estamos em guerra contra um exército aguerrido e extremamente maligno, cujo comandante é um anjo decaído, chamado Satanás. É preciso RENUNCIAR, RESISTIR e RESTAURAR. Você tem vivido os Sacramentos? Participado da Eucaristia? Vivenciado a Confissão?? Que tipo de música você ouve? Que tipo de amizades vocês tem buscado? Que lugares você freqüenta? Roupas têm usado? Você realmente busca uma mudança em sua vida? Desde seu início de Crisma, você viu essa mudança acontecer?? Você está orando??... É muito fácil dizer que cremos em Deus, e até os demônios crêem: “Crês que há um só Deus. Fazes bem. Também os demônios crêem e tremem.” (Tg 2, 19) Não basta crer. É preciso viver a fé! (Jo 11, 26) Precisamos ser santos e santas de nosso tempo! Temos que preservar nossos corpos contra esse “mundo”: "Mas o corpo não é para a devassidão, ele é para o SENHOR e o SENHOR é para o corpo” (I Cor 6,13).

Há muitos jovens que até possuem uma vida ativa na Igreja, pessoas com uma atividade pastoral intensa, até mesmo com grandes responsabilidades. Há outros que freqüentam só as missas, mas são muito cristãos. Porém, com o tempo, foram se cansando das coisas de Deus, vão desanimando, “esfriando como um pedaço de carvão longe da brasa”, afirmando que não têm mais tempo, se dizem cansados, abatidos, se entregando pouco a pouco aos braços do mundo, ou seja, acabam abandonando a Fé. Começam a buscar um “Cristo Light”, vivem uma “Fé de supermercado”, e pregam um Jesus desfigurado que aceita seus pecados... Adequando o Evangelho as suas vidas. Imaginou isso? Pois bem: Pode haver pessoas assim a sua volta!! Pessoas que sorriem, dão risada quando estão na Igreja, mas que andam cambaleando em suas dúvidas, nos problemas pessoais, familiares, cheias de questionamentos, desanimadas, que estão prestes a perder a Fé. Também existem muitos cristãos falam bonito, mas não possuem atitudes de vida coerente com aquilo que pregam. Assim sem atitude cristã, a nossa fé é Morta! (Tg 2, 17) Um jovem cristão tem que comunicar a fé, o Evangelho, a esperança e amor, ardor missionário, vibração e alegria, responsabilidade e dedicação, ser exemplo perante o próximo e tantas outras virtudes (1Tm 4, 12) Não podemos ser “pescadores de aquário”, como diz Dom Rafael Cifuentes. Mas quem disse que seguir Jesus é fácil??? O verdadeiro cristão é aquele que professa a sua fé onde quer que esteja! Eu preciso ser exemplo (“Sal da terra e luz do mundo”) perante minha família, no colégio, faculdade, no meu trabalho, meu ministério, minha Igreja..., em todo o lugar e a toda a hora!!! O que me adianta ser uma pessoa na igreja, nos encontros e eventos e outra totalmente diferente com a minha namorada, com meus amigos... Mascarado não dá mais pra viver! A atitude de Jesus na Cruz expressa muito mais do que toda a sua pregação anterior. Ele não só pregou o amor. Pagou o preço mais alto: deu a sua vida.

“Lembra-te do teu Senhor nos dias de sua Mocidade...” (Ecl 12, 1)

Seja Santo!

Juberto Santos
historiador_ufrj@yahoo.com.br

Como é feita a Eleição Papal?

Acredito que muitos leitores devam lembrar-se da última eleição papal ocorrida no ano de 2005, com o anúncio do novo sumo pontífice, o papa Bento XVI. Mas será que sabemos a origem dessa eleição? Será que entendemos o porquê do seu nome ser Conclave? Esse é mais um importante tema sobre a História da Igreja Católica, onde podemos entender como se dá a escolha do sucessor do Apóstolo Pedro.

- Aspectos Gerais

Primeiramente lembro que o Papa é bispo de Roma e sucessor de Pedro (Mt 16, 18-19). É o chefe de toda a Igreja Católica Apostólica Romana. Está acima de todos os bispos (Apóstolos). Ele legisla para toda a Igreja através de Bulas, Encíclicas e Decretais. Jesus de Nazaré, segundo a Bíblia, fez de Pedro o fundamento visível da Igreja, entregou as ”chaves”. Assim, o bispo de Roma, sucessor de Pedro é a cabeça do colégio dos bispos, Vigário de Cristo na Terra, é o Pastor da Igreja Universal. Ele possui três funções: é chefe de Estado (Vaticano), é bispo de Roma e Chefe da Igreja.

Os cardeais são bispos que fazem parte, desde 1059, com o papa francês Nicolau II (1059-1061), de um colegiado (Prelados do Sacro Colégio Pontifício), os quais têm a função, desde 1274, no Concílio de Lyon II, de elegerem o novo Papa.

Lembro que a Idade Média não pode ser estudada sem que o pesquisador situe no tempo e espaço o alvo de sua pesquisa, contudo, podemos entender de maneira mais ampla que, durante o período medieval, houve uma disputa entre: o poder temporal (dos reis) e o poder espiritual (dos papas).

Sabemos que durante a Idade Média, a Europa Ocidental ficou sob o domínio de grupos germânicos, conhecidos erradamente por “bárbaros” e por muçulmanos. O território ficou subdividido em muitos reinos e o poder foi ficando atomizado (poder local forte). Assim, muitos desses reis tinham forte influência na política local e, por conseguinte, nas questões religiosas. A História nos traz vários exemplos de reis que agiram dessa forma: Imperador Honório (418 d.C.), rei Odoacro (483 d.C.), rei Teodorico (498 d.C.), dentre outros.

Essa querela teve diferentes desfechos dependendo da época e da localidade, mas uma coisa era muito comum: reis queriam intervir na escolhas dos bispos e demais cargos religiosos. Interferiam querendo eles mesmos eleger tais cargos, ou queria que seus filhos ou seus subordinados fizessem parte desse colegiado. Sabemos que a cidade de Roma teve alguns papas (bispo de Roma) sendo eleitos dessa forma.

- Como ocorre o conclave?

Esta palavra (Conclave) aparece pela primeira vez num documento do papa Gregório X (1271-1276), no II Concílio de Lion, Julho de 1274. O título do documento era •Ubi periculum.• (Quando houver algum perigo). Tentando diminuir tal interferência de pessoas estranhas, ele ordenou que os cardeais fossem fechados na sala com chave – “Conclave”. E tem sido assim desde então.

A votação se inicia imediatamente depois que todos os cardeais eleitores - os que têm menos de 80 anos - entram na Capela Sistina, no Vaticano. Caso ninguém seja apontado por ao menos dois terços dos membros votantes do colégio cardinalício, nos dias seguintes ocorrem duas votações de manhã e outras duas à tarde. Os cardeais são mantidos em total isolamento do mundo exterior: não podem usar telefone, receber jornais, ver televisão, dentre outros.

Eles se reúnem e é necessário que se tenha 2/3 de aprovação para que esta eleição seja aceita e validada.

Após três dias de votações sem resultado, ocorre uma suspensão de um dia para uma “pausa de oração”. Em seguida, as votações voltam a ser realizadas e, se ainda assim o pontífice não for escolhido, será efetuado outro intervalo, seguido por sete tentativas.

Enquanto a decisão ainda não foi tomada, as cédulas de votação são queimadas numa lareira junto com palha úmida, produzindo no Vaticano uma fumaça preta que indica que o processo continua em andamento. A fumaça branca, produzida coma a queima apenas das cédulas, indica que o novo papa foi escolhido.

O eleito é oficialmente perguntado se aceita ou não a eleição. Caso a aceite, se quiser, escolhe um novo nome.

A tradição de os Papas adotarem um novo nome data de 533, quando um padre chamado Mercúrio foi eleito bispo de Roma. Por achar que Mercúrio era um nome pagão demais para um Papa, adotou João II. Até então os Papas eram simplesmente chamados por seu nome de batismo. Lembro ainda que foi o papa João Paulo, em 1978, o primeiro a utilizar um duplo nome. Por ser um grande amigo e admirador, o seu sucessor, continuou esse procedimento, assumindo como João Paulo II.

Procede-se depois a uma curta procissão até uma janela da Basílica de S. Pedro que dê para a Praça, onde o novo Sumo Pontífice é revelado e faz a sua primeira bênção: Urbi et Orbi. Minutos antes, o cardeal mais velho anunciará o que é esperado: Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam (Anuncio-vos uma grande alegria: Temos Papa), dando o nome de batismo e o nome adotado pelo novo papa.
Após esse momento, os sinos da Basílica de São Pedro começam a soar, e a seguir os das igrejas de todo o mundo.

Abaixo, podemos observar tal vestuário no dia da eleição dos últimos cinco papas:


No ultimo Conclave realizado em 2005, o Brasil, com oito cardeais, foi, junto com a Alemanha, o quarto maior país em representação no Colégio de Cardiais em Roma. Em primeiro lugar está a Itália, com 40, à frente de Estados Unidos, com 14, e Espanha, com 9. O Colégio contou com 164 cardeais.

Por continentes, a Europa continua dominando o colégio (101 cardeais), à frente de América Latina (29 cardeais), América do Norte (23 cardeais), África (18 cardeais), Ásia (18 cardeais) e Oceania (05 cardeais).


- Fontes:

- ALBERIGO, Guiuseppe (dir.) História dos Concílios Ecumênicos. Paulus, São Paulo: 1995.
- BALARD, Michel. GENET, Jean-Philippe. ROUCHE, Michel. A Idade Média do Ocidente. Dom Quixote, Lisboa: 1990.
- COMBY, J. Para Ler a História da Igreja. Das Origens ao século XV. 1 vol. Loyola, São Paulo: 1993.
- FRÖHLICH, Roland. Curso Básico de História da Igreja. Paulinas, São Paulo: 1987.
- GOMES, Francisco José Silva. A Cristandade Medieval entre o mito e a utopia. In: TOPOI. Revista de História. Rio de Janeiro: PPGHIS da UFRJ/7 Letras, set. 2002, nº 5, pp. 221-231.
___________. A Igreja e o poder, representações e discursos. In: RIBEIRO, Maria Eurydice (org.). A vida na Idade Média. Unb, Brasília: 1997, pp. 33-60.
- KNOWLES, D. e OBOLENSKY, D. Nova História da Igreja. A Idade Média. 2 vols. Vozes, Petrópolis: 1974.
- PAREDES, Javier (dir.) et alli. Diccionario de los papas y los concilios. Barcelona: Ariel, 1998.
- PIERNARD, Pierre. História da Igreja. Paulinas, São Paulo: 1982.
- VAUCHEZ, André. A espiritualidade na Idade Média Ocidental (Séc VIII a XIII). Jorge Zahar, Rio de Janeiro: 1995.
- http://www.vatican.va/
- http://www.cleofas.com.br/

Juberto Santos

A Igreja na Atualidade (1962-Atual)

Já se sabe que, a partir do pontificado de João XXIII - Ângelo G. Roncalli (1958-1963) e de suas encíclicas “Mater et Magistra” e “Pacen in Terris”, a Igreja Católica passa a tomar sérias posições frente aos problemas do mundo contemporâneo. A partir daí, ela assumiu uma posição clara e definida: O Concílio Vaticano II, a encíclica Populorum Progressio, de Paulo VI, e as reuniões do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) foram momentos marcantes, pois definiram o posicionamento da Igreja em face das atuais condições de vida. Vamos analisar algumas de suas declarações marcantes. No Brasil, ocorre a Criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, a 14 de outubro de 1952, uma das primeiras a se constituir.

1º CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO – CELAM (1955)

A Primeira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano realizou-se no Rio de Janeiro, de 25 de julho a 4 de agosto de 1955. A decisão mais importante desta conferência foi o pedido dirigido ao Papa Pio XII - Eugenio Giuseppe Maria Giovanni Pacelli (1939 -1958) para se criar um organismo que pudesse unir mais as forças da Igreja Católica na América Latina. Nasceu desta proposição o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM). O Papa aprovou o pedido em 2 de novembro de 1955.

O CONCÍLIO VATICANO II (1962-1965)

Iniciado em 11 de outubro de 1962, ele perdura até 8 de dezembro de 1965. Ele foi o XXI Concílio Ecumênico da Igreja Católica Apostólica Romana. Ele foi criado visando discutir as ações da Igreja nos tempos atuais. Na Homilia (sermão proferido durante as Missas) de abertura do CVII aos padres conciliares, o Papa da época expõe sua intenção: “Procuremos apresentar aos homens de nosso tempo, íntegra e pura, a verdade de Deus de tal maneira que eles a possam compreender e a ela espontaneamente assentir. Pois somos Pastores...” (João XXIII, 1962).

Dentre as grandes decisões vistas nesse concilio, podemos citar: O culto em língua nacional (a Missa em Latim deixa de ser executada obrigatoriamente); à utilização dos meios de comunicação social (cinema, televisão, rádio, jornais...); liberdade de consciência; a criação das Pastorais; reformas litúrgicas; a ampliação dos leigos na vida da Igreja; nova codificação do Direito Canônico; a definição de uma igreja democrática e ecumênica. O papa Paulo VI assume após a morte de João XXIII após a Primeira cessão do Concílio.

A CAMPANHA DA FRATERNIDADE (1963/1964)

Em 13 de dezembro de 1963, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) cria a “Campanha da Fraternidade - CF” com a missão de debater temas atuais e urgentes perante a sociedade. Seu objetivo é despertar a solidariedade dos seus fiéis e da sociedade em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos de solução. A cada ano é escolhido um tema, que define a realidade concreta a ser transformada, e um lema, que explicita em que direção se busca a transformação. Nos primeiros anos da Campanha, a Igreja buscou trazer os fiéis para o interior das comunidades. Percebem-se isso amplamente ao ver os lemas usados:

CF 1964 – Lembre-se: Você também é a Igreja
CF 1965 – Faça de sua paróquia uma comunidade de fé, culto e amor.
CF 1966 – Somos Responsáveis uns pelos outros
CF 1967 – Somos todos iguais, somos todos irmãos
CF 1968 – Crer com as mãos
CF 1969 – Para o outro, o próximo é você!
CF 1970 – Ser Cristão é Participar
CF 1971 – Reconciliar

Tem como objetivos permanentes: despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular os cristãos na busca do bem comum; educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho; renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na Evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária - todos devem evangelizar e sustentar a ação evangelizadora e libertadora da Igreja, daí o destino da coleta final: realização de projetos de caridade libertadora e manutenção da ação evangelizadora.

A CF foi passando a atingir, a cada ano, um problema determinado e urgente que precisa do esforço de ação pastoral conjunta no Brasil. Temas como Educação, Saúde, Questão Agrária, Reconciliação, Família, Crianças, Idosos, Água, Violência, Juventude, Meios de Comunicação, Trabalho, Fome, Desigualdade Social, Solidariedade e Paz foram destacados.

2º CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO (1968)

O II Conselho Episcopal aconteceu em Medelin, Colômbia, em 1968, quando foi fixado o novo posicionamento da Igreja em face das condições socioeconômicas e político-religiosas da América Latina. Em documento episcopal foram analisadas as explosões demográficas, o analfabetismo, a má distribuição de riquezas – como a concentração da propriedade das terras nas mãos de uma minoria –, a dependência ao capital estrangeiro e as tensões entre as classes e os países latino-americanos, bem como as tensões internacionais. O documento apontou a necessidade de promover uma radical modificação nas estruturas políticas, econômicas e sociais, devendo a Igreja comprometer-se nesse processo: assinalou a marginalização política do povo e as formas de opressão de grupos e de setores dominantes. Insistiu em que a Igreja devia se engajar na promoção de uma educação libertadora, na instauração de uma justiça e paz, na ajuda aos oprimidos para conhecer e lutar pelos seus direitos, e no estímulo a todas as iniciativas que contribuíssem para a formação do homem. Há a opção preferencial pelos pobres, envolvimento com os problemas político-sociais, uma educação conscientizadora, dentre outros.

3º CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO (1979)

Continuando os trabalhos iniciados em Medelin, de 27 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979, reúnem-se em Puebla, no México, a Terceira Confederação Geral do Episcopado Latino-Americano. Lá, as atenções da Igreja voltaram-se mais para os problemas sociais da América Latina, tais como: a pobreza, a fome, o analfabetismo, a dependência ao capital estrangeiro, a adoração ao lucro e, novamente, volta a criticar em termos políticos a marginalização popular. A linha de ação estava voltada para os pobres e para os jovens. Mais uma vez prevaleceu a ala progressista. Reafirmou-se a Teologia da Libertação com as propostas de mudanças profundas nas estruturas latino-americanas, em benefício da maioria, ou seja, dos pobres. Visa uma igreja Missionária, de Comunhão e Servidora. Através das Comunidades Eclesiais de Base (CEBEs), passa atuar nas paróquias e dioceses valorizando a participação ativa dos leigos.

Com a morte de Paulo VI – Giovanni B. Montini (1963-1978), o pontificado foi assumido por João Paulo I – Albino Luciani (26/08/1978 – 28/09/1978), o “papa do sorriso”, que morrera um mês após assumir. Seu sucessor foi um polonês, que se autodenominou João Paulo II – Karol Wojtiyla, em 16/10/1978, em homenagem ao papa anterior. Assumindo um caráter missionário, ele viajou por todo o mundo levando mensagens de paz e de conforto aos povos. Pôs fim ao enclausuramento da Cúria Romana.

Ele privilegiou, em suas encíclicas, a família. Ele possuía um caráter mais conservador, visa temas espirituais e disciplinadores, ataca o aborto, o divorcio, o relaxamento da moral, desestruturando o meio familiar. Apontou a aflição do homem diante da tortura, da fome e da guerra. Utiliza em mais demasia o termo “Doutrina Social da Igreja”, visando um olhar mais profundo as necessidades essenciais do ser humano (alimentação, casa...). Reafirma o Celibato, condena o controle da natalidade por meios artificiais, contra a participação de clérigos na política. Faz limitações à Teologia da Libertação**, inclusive punições impostas pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Oficio) ao frei desviante Leonardo Boff. No dia 11 de outubro de 1992, o papa, após seis anos de trabalho na Cúria, apresenta o novo Catecismo da Igreja Católica visando uma catequese renovada nas fontes vivas da fé. Não se destina a substituir os catecismos locais, mas a encorajar e ajudar a redação de novos textos visando à unidade da fé e a fidelidade à doutrina católica.

4º CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO (1992)

A quarta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano foi realizada em Santo Domingo (República Dominicana), em 1992. João Paulo II a convocou oficialmente no dia 12 de dezembro de 1990, estabelecendo como tema “Nova evangelização, Promoção humana, Cultura cristã”, sob o lema “Jesus Cristo ontem, hoje e sempre” (Hb 13,8). O CELAM fora o encarregado de preparar a Conferência, tendo divulgado o Documento de Consulta em 1991. Este, após as contribuições das Igrejas locais, transformou no Documento de Trabalho, base das discussões dos bispos e convidados. Ela teria três objetivos: celebrar Jesus Cristo, ou seja, a fé e a mensagem do Senhor crucificado e ressuscitado; prosseguir e aprofundar as orientações de Medellín e Puebla; definir uma nova estratégia de evangelização para os próximos anos, respondendo aos desafios do tempo. Entre bispos, peritos e convidados participaram cerca de 350 pessoas. No desafio de implementar a Nova Evangelização, Santo Domingo enfatiza que a religiosidade popular é expressão privilegiada da inculturação da fé. Santo Domingo cita entre os desafios a serem enfrentados pela inculturação do Evangelho: a corrupção, a má distribuição de renda, as campanhas anti-natalistas, a deterioração da dignidade humana, o desrespeito à moral natural. Como linhas pastorais, incentiva trabalhar na formação cristã das consciências, zelar para que os meios de comunicação não manipulem nem sejam manipulados, a apresentar a vida moral como seguimento de Cristo, favorecer a formação permanente de clero e laicato, acompanhar pastoralmente os construtores da sociedade. Os bispos pedem ainda ações pastorais junto aos indígenas e aos afro-americanos.

A Teologia da Libertação à O termo libertação foi cunhado a partir das realidades culturais, sociais, econômicas e políticas sob as quais se encontrava a América Latina, a partir das décadas de 1960/70. Alguns teólogos deste período, católicos e protestantes, assumiram a libertação como paradigma de todo fazer teológico. Ela é uma teologia propriamente cristã; por isso, utiliza a Bíblia como pressuposto necessário de seus discursos. É baseada em ideais de amor e libertação de todas as formas de opressão (especialmente opressão econômica. Ela é analisada de três formas, os três P's: Profissional, pelos teólogos; Pastoral, nas igrejas e CEBs (Comunidades Eclesiais de Base); Popular, pelo povo oprimido no dia-dia.

A Morte de João Paulo II e o Conclave

Em 02 de abril de 2005, João Paulo II morre e, no dia 24 de abril, quem assume o Pontificado é o ex-cardeal alemão Joseph Ratzinger de 78 anos, com o nome de Bento XVI, seguindo a mesma linha de João Paulo II. Com a morte do “papa peregrino”, vimos o mundo com muitas dúvidas a respeito da Doutrina Católica e os rumos do Cristianismo com o novo Pontífice. Questões foram levantadas, propostas novas e muitas críticas. Antes de o Conclave (termo que significa reunião fechada, onde todos estão fechados “com chave”) iniciar, os meios de comunicação diziam: “O novo papa terá que fazer isso...” ou “Ele terá que aceitar aquilo...” e, muitas das vezes, tais propostas e críticas não caberiam a ele decidir. Seria a modernidad e do Catolicismo, com os grupos progressistas. Eis alguns exemplos: Aceitar o casamento Homossexual; Aceitar o aborto; Aceitar o fim da indissolubilidade do casamento; Aceitar a ordenação de mulheres; Aceitar o uso da camisinha e demais métodos anticoncepcionais; Aceitar pesquisas com embriões humanos em futuras pesquisas; Aceitar o fim do Celibato. O resultado dessas intensas pressões mostraria que o Papa jamais poderá ir de encontro à Bíblia, pois é a base da fé católica. Logo, as únicas coisas (das citadas a cima), que ele poderia alterar seria: a questão da ordenação feminina e o celibato, pois estão vinculadas as tradições da Igreja e não nas Escrituras. Vemos ainda o grupo “regressista”, considerado mais conservador dentro da igreja. Outro ponto é a perda de fiéis perante os grupos neopentecostais e doutrinas protestantes.

5º CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO (2007)

A Vinda de Bento XVI ao Brasil

A visita do papa Bento XVI ao Brasil, ocorrida no período de 9 a 13 de maio de 2007, foi motivada por algumas circunstâncias. Dentre elas está a canonização de Frei Antônio de Santana Galvão, que ocorreu no dia 11 de maio de 2007, em São Paulo. Outro compromisso foi a participação em um Encontro com os Jovens no Estádio Municipal do Pacaembu e um encontro com os Bispos do Brasil na Catedral da Sé, em São Paulo, no dia 10. O grande motivo foi a Sessão Inaugural dos trabalhos da V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE, no Santuário de Aparecida/SP, que aconteceu de 13 a 31 de maio.

O tema da Quinta Conferência foi: “Discípulos e Missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida”, inspirado na passagem do Evangelho de João que narra “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). A Conferência foi convocada pelo Papa João Paulo II e confirmada pelo Papa Bento XVI.

A conferência buscou compilar as novas propostas de evangelização para a América Latina, novas frentes de trabalho, novos campos de ação e metidos. Muitos documentos importantes foram escritos durante a Conferência.

O papa celebrou Missas, teve ainda um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (foto), onde assinalou a importância do retorno do ensino religioso, condenou a legalização do aborto, enfatizando que o cristianismo prega a vida e não a morte. Sua vinda ao Brasil também foi uma forma de animar os fiéis brasileiros, pois é visto que, a cada ano, cerca de 1% dos católicos deixam a religião, desde 1992. O país mais católico do mundo estaria passando por um momento de turbulência, dizem alguns especialistas.



Juberto Santos
historiador_ufrj@yahoo.com.br
A CAMPANHA DA FRATERNIDADE (CF)



A Campanha da Fraternidade surgiu durante o desenvolvimento do Concílio Vaticano II (1962-1965). A cada ano, desde 1964, a Igreja no Brasil pr opõe a todos os cristãos, a Campanha da Fraternidade (CF). Essa campanha desenvolveu-se mais intensamente durante a Quaresma, mas aos poucos, seu tema foi sendo refletido e engajado dentro da vida da Igreja durante todo o ano. É sempre um tema bem concreto através do qual, somos convidados a reconsiderar e, sobretudo, nossas atitudes para com o próximo, dando dimensão concreta à nossa conversão pessoal e à de nossas comunidades de Igreja.

A Quaresma é o período de 40 dias entre a Quarta-feira de cinzas – logo após o Carnaval - e a Semana Santa (que se inicia com o Domingo de Ramos). Durante a Quaresma, a Igreja e todos os cristãos preparam-se para a Páscoa. A Páscoa possui três interpretações: é a antiga festa de pastores para comemorar a primavera; é a festa dos Hebreus, para relembrar sua saída do Egito, no tempo de Moisés; é a festa anual dos Cristãos para celebrar a Ressurreição de Cristo.

É nesse contexto que inicia a CF, a qual é um projeto que procura animar todas as comunidades num compromisso pastoral concreto que marque a unidade da Evangelização pelo empenho comum em prol da solidariedade e fraternidade que nascem do amor de Cristo. Durante esse período, a liturgia trabalha paralelamente com a Campanha. Os cantos litúrgicos da missa, as preces e outras orações são voltados também para o tema que está sendo trabalhado. A CF atinge, cada ano, um problema determinado e urgente que precisa do esforço de ação pastoral conjunta no país, desafios sociais, econômicos, políticos, culturais e religiosos da realidade brasileira;

Inicialmente, a igreja buscou rever sua parte interna, tanto que as primeiras campanhas tinham por objetivo principal reaproximar os leigos das atividades comunitárias e pastorais, além de reforçar a vivência na paróquia e na comunidade. Dessa forma, os primeiros temas da Campanha da Fraternidade contemplaram mais a vida interna da Igreja. A partir dos anos de 1970 essa postura muda e a Igreja passa a Igreja preocupa-se com a realidade social da população, denunciando o pecado social e promovendo a justiça.


- Algumas Funções da Campanha da Fraternidade (CF):


• É uma campanha quaresmal, que une em si as exigências da conversão, da oração, do jejum e da doação. Convoca os cristãos a uma maior participação nos sofrimentos de Cristo como possibilidade de auxílio aos pobres
• início na quaresma e ressonância no ano todo (Cf. CNBB, Pastoral da Penitência, Doc. 34, nº. 4.3)
• É um grande instrumento para desenvolver o espírito quaresmal: conversão, renovação interior e ação comunitária em preparação da Páscoa.
• Meio para viver os três elementos fundamentais da espiritualidade quaresmal: Oração – Jejum – esmola
• A CF é especialmente manifestada na evangelização libertadora, clama a renovar a vida da Igreja, a transformar a sociedade e a partir de temas específicos, tratados à luz do Projeto de Deus.


- TODOS OS TEMAS E OS LEMAS DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE

CF 1964 – Igreja em Renovação - Lembre-se: você também é Igreja
CF 1965 – Paróquia em Renovação - Faça de sua paróquia uma Comunidade de fé, culto e amor
CF 1966 – Fraternidade - Somos responsáveis uns pelos outros
CF 1967 – Co-responsabilidade - Somos todos iguais, somos todos irmãos
CF 1968 – Doação - Crer com as mãos
CF 1969 – Descoberta - Para o outro, o próximo é você
CF 1970 – Participação - Participar
CF 1971 – Reconciliação - Reconciliar
CF 1972 – Serviço e Vocação - Descubra a felicidade de servir
CF 1973 – Fraternidade e Libertação - O egoísmo escraviza, o amor liberta
CF 1974 – Reconstruir a vida - Onde está teu irmão?
CF 1975 – Fraternidade é Repartir - Repartir o Pão
CF 1976 – Fraternidade e Comunidade - Caminhar juntos
CF 1977 – Fraternidade na Família - Comece em sua casa
CF 1978 – Fraternidade no Mundo do Trabalho - Trabalho e justiça para todos
CF 1979 – Por um mundo mais humano - Preserve o que é de todos
CF 1980 – Fraternidade No mundo das migrações - Para onde vais?
CF 1981 – Saúde e Fraternidade - Saúde para todos
CF 1982 – Educação e Fraternidade - A verdade vos libertará
CF 1983 – Fraternidade e Violência - Fraternidade sim, violência não
CF 1984 – Fraternidade e Vida - Para que todos tenham Vida
CF 1985 – Fraternidade e Fome - Pão para quem tem fome
CF 1986 – Fraternidade e Terra - Terra de Deus, terra de irmãos
CF 1987 – A Fraternidade e o menor - Quem acolhe o menor, a Mim acolhe
CF 1988 – A Fraternidade e o negro - Ouvi o clamor deste povo!
CF 1989 – A Fraternidade e a Comunicação - Comunicação para a verdade e a paz
CF 1990 – A Fraternidade e a Mulher - Mulher e homem: imagem de Deus
CF 1991 – A Fraternidade e o mundo do Trabalho - Solidários na dignidade do trabalho
CF 1992 – Fraternidade e Juventude - Juventude - caminho aberto
CF 1993 – Fraternidade e Moradia - Onde moras?
CF 1994 – Fraternidade e Família – A Família, como vai?
CF 1995 – A Fraternidade e os excluídos - Eras tu, Senhor?
CF 1996 – A Fraternidade e a Política - Justiça e paz se abraçarão!
CF 1997 – A Fraternidade e os encarcerados - Cristo liberta de todas as prisões!
CF 1998 – Fraternidade e Educação - A serviço da vida e da esperança!
CF 1999 – Fraternidade e os Desempregados - Sem trabalho... Por quê?
CF 2000 – Dignidade Humana e Paz - Novo milênio sem exclusões (Ecumênica)
Na celebração do Grande Jubileu da Encarnação a Campanha da Fraternidade foi realizada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC).
CF 2001 – Vida Sim, Drogas Não!
CF 2002 – Fraternidade e povos Indígenas - Por uma terra sem males
CF 2003 – Fraternidade e pessoas Idosas
CF 2004 – Fraternidade e Água - Dignidade, Vida e Esperança
CF 2005 – Solidariedade e Paz - Felizes os que promovem a Paz
CF 2006 – Fraternidade e pessoas com deficiência - Levanta-te, vem para o meio!
CF 2007 – Fraternidade e Amazônia - Vida e missão neste chão
CF 2008 – Fraternidade e defesa da vida - Escolhe, pois a vida
CF 2009 – Fraternidade e Segurança Pública - A paz é fruto da justiça



- COLETA NO DOMINGO DE RAMOS

No final da Campanha, cada comunidade é chamada a um gesto generoso, cuja destinação não contemplará apenas necessidades dela. Pela sua doação, a comunidade vai ajudar a Igreja desenvolver obras de promoção humana e a sustentar a ação pastoral. Certamente não há Diocese do Brasil que não tenha já recebido ajuda de irmãos e instituições eclesiais de outros países. Numerosas paróquias e comunidades receberam ajuda financeira de entidades católicas do estrangeiro para as mais diversas finalidades: construção de igrejas, de centros comunitários, programas de formação, seminários... Dessa forma, a CF se expressa concretamente pela oferta de doações em dinheiro na Coleta da solidariedade. É um gesto concreto de fraternidade feito em âmbito nacional, em todas as comunidades cristãs, paróquias e dioceses.

Na coleta da Campanha, cada comunidade dá conforme pode, com cada uma colaborando de acordo com suas possibilidades. A colaboração deve ser generosa, gratuita, solidária e libertadora. A coleta da Campanha da Fraternidade, grande gesto concreto de fraternidade, deve tornar-se logo meio privilegiado para a auto-sustentação da Igreja no Brasil, garantindo recursos financeiros para ela manter obras sociais, programas de formação de leigos engajados, a infra-estrutura pastoral. A CNBB já recebe razoável recurso desta coleta para preparar a Campanha de cada ano e para as atividades que desenvolve.



- QUANDO TERMINA A CAMPANHA?

Alguns podem pensar que, após a Páscoa, a campanha chega ao fim, todavia, é um grande equívoco. Ela perdura pelo ano inteiro, junto com o Ano Litúrgico, atuando com fervor nas outras atividades pastorais que são desenvolvidas ao longo do ano.

Cartazes, desenhos, músicas, texto-base, textos voltados para cada pastoral, vídeos... Várias são as formas que a Campanha da Fraternidade pode ser trabalhada nas comunidades, sendo debatida e refletida pela comunidade.



Juberto Santos

A Igreja no Período da Reforma e Contra-Reforma

A Reforma Protestante

Foi o movimento que rompeu a unidade do Cristianismo centrado pela Igreja de Roma. Esse movimento é parte das grandes transformações econômicas, sociais, culturais e políticas ocorridas na Europa nos séculos XV e XVI, que enfraqueceram a Igreja permitindo o surgimento de novas doutrinas religiosas – Protestantes. A Igreja estava em crise, a burguesia crescia em importância, o nacionalismo desenvolvia-se nos Estados modernos e o Renascimento Cultural despertava a liberdade de Crítica. O termo “Igreja Católica” é posterior ao Concílio de Trento, uma forma de diferenciação perante os protestantes. Antes só existia a Cristandade. A esse movimento de divisão no cristianismo e surgimento das novas doutrinas dá-se o nome de REFORMA e à reação da Igreja, realizando modificações internas e externas, de CONTRA-REFORMA. Contudo, esse movimento foi precedido por várias manifestações nos séculos anteriores, mas nenhuma delas conseguiu o rompimento definitivo com a Igreja Romana. Dentre elas, vemos:

- Heresias Medievais (Arianismo, Valdenses, Albigenses);
- Querela de Investiduras (disputas entre os papas e os imperadores da Alemanha a partir de 1074, pelo direito de nomear bispos e abades. Só se resolve no século XII);
- Cisma do Ocidente – (Ocorrido em 1378, em que a Igreja passa a ser governada por TRÊS papas – ela se unifica em 1417);
- Movimentos Reformadores – John Wiclif (1320? -1384) e Jonh Huss (1369-1415).


Os primeiros questionamentos são referentes à questão das Indulgências (documentos assinados pelo papa, que absolviam o comprador de alguns pecados cometidos, diminuindo o tempo de sua pena no purgatório, era um comércio em vista da salvação); a Simonia {comercialização de coisas sagradas (Cargos eclesiásticos, cobrança por sacramentos, objetos...)}; o celibato, culto às imagens, excesso de sacramentos, atitude mundana do Alto Clero, dentre outras. Havia um abismo muito grande entre o que a Igreja pregava e o que fazia.

A REFORMA LUTERANA

A região da atual Alemanha não está centralizada, é agrária e feudal. A Igreja possui um terço das terras. Há descontentamento geral. Vendo tantos abusos por parte do Clero, o monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) não se calou. Elaborou 95 teses e afixou-as na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, em 1517. A maioria era contra as indulgências. Principalmente as indulgências visando à construção da Basílica de São Pedro. Apoiado pela nobreza alemã, Lutero pôde divulgar suas idéias, calcada em dois princípios que se constituiriam no núcleo de sua doutrina: A Salvação somente pela fé e não pelas práticas religiosas e a Inutilidade dos Mediadores (Clero). Em Junho de 1518 foi aberto o processo contra Lutero, com base na publicação das suas 95 Teses. Alegava-se que este incorria em heresia, a ser examinado pelo processo. Nas aulas que dava na Universidade de Wittenberg, espiões registram os comentários negativos de Lutero sobre a excomunhão. Depois disso, em agosto de 1518, o processo é alterado para heresia notória. Lutero é convidado para ir a Roma, onde desmentiria sua doutrina. Lutero recusa-se a fazê-lo, alegando razões de saúde e pretende uma audiência em território alemão. O seu pedido foi aceito, ele foi convidado para uma audiência com o cardeal Caetano de Vio (Tomás Caetano), durante a reunião das cortes (Reichstag) imperiais de Augsburg. Entre 12 e 14 de Outubro de 1518, Lutero fala a Caetano. Este pede-lhe que revogue a sua doutrina. Lutero recusa-se a fazê-lo. Do lado da Igreja de Roma, o caso pareceu terminado. Por causa da morte de Imperador Maximiliano I (Janeiro de 1519), houve uma pausa de dois anos. Após a escolha de Carlos V como imperador (26 de junho de 1519), o processo de Lutero voltará a ser reatado. Em junho de 1520 reaparece a ameaça no escrito "Exsurge Domini", em Janeiro de 1521 a bula "Decet Romanum Pontificem". Com ela foi excomungado Lutero. Em 1546, no dia 18 de fevereiro, aos 62 anos, Martinho Lutero faleceu.

à Eis suas reivindicações e críticas principais:

Substituição do Latim pelo idioma alemão nos cultos religiosos; Questiona a grande quantidade de sacramentos (Preserva dois sacramentos: batismo e eucaristia); Livre interpretação da Bíblia; Contra o Celibato; Rejeita a Hierarquia Religiosa da Igreja de Roma; pregava a Salvação pela fé; Negava a Transubstanciação – afirmava a Consubstanciação (misturados); Pecado Original: Marca do gênero Humano (nem Cristo, nem o Batismo o retiram);


A REFORMA CALVINISTA

João Calvino (1509-1564) era francês, que inicia sua ruptura em Genebra, Suíça, por volta de 1536. Lá começa a publicar estudos sistemáticos sobre a nova religião. Funda uma nova doutrina que expande a Reforma. A burguesia dessa cidade havia adotado os princípios da reforma para lutar contra seu governante, o católico Duque de Savóia, o que favoreceu a atuação do reformador. Ele divergia de Lutero em alguns pontos, principalmente na questão da Salvação. Diferente de Lutero (salvação pela fé), ele defendia a idéia de que a fé não era suficiente, uma vez que o homem já nasce predestinado, ou seja, escolhido por Deus para a vida eterna ou para a sua condenação. Calvino tornou-se todo-poderoso, conseguindo impor sua doutrina, interferir nos costumes, nas crenças e na própria organização político-administrativa da cidade. O Calvinismo propagou-se rapidamente atingindo a França, a Holanda, a Inglaterra e a Escócia.

à Eis algumas de suas teorias e questionamentos:

- A riqueza material era um sinal da graça divina sobre o indivíduo. Essa teoria é assimilada pela burguesia local, que justificava não só seu comércio, como também as atividades financeiras e o lucro a elas associado. Ele justifica as atividades econômicas até então condenadas pela Igreja romana.
- Grande rigidez na moral
- Questiona a Liturgia da Missa (simplifica com o Sermão, a oração e a leitura da Bíblia).
- Questiona o uso das Imagens (houve quebra-quebra nas paróquias locais)
- Acaba com os jogos, dança ida ao teatro...
- “O homem que não quer trabalhar, não merece comer.” afirma.
- Livre Interpretação da Bíblia;
- Nega o culto aos santos e a Virgem;
- Questiona a autoridade do Papa;
- Defende a separação entre a Igreja e o Estado;
- Questiona o Celibato do clero;
- Questiona a Transubstanciação (propõe uma presença material, o Cristo está presente, mas não materialmente).
- Ele cria um conselho para reger a vida religiosa em Genebra de “12 anciãos”. Eles julgavam, ditavam regras. Consistório de Genebra.
- A doutrina afirma que não há certeza da salvação;


A REFORMA ANGLICANA

Os ingleses, durante a época dos Tudor, também criticavam os abusos da Igreja Romana, a ineficiência dos tribunais eclesiásticos e o favoritismo na distribuição de cargos públicos para membros do Clero, além de queixar-se do pagamento e do envio de dízimos para Roma. Durante o governo de Henrique VIII (1509-1547), a burguesia fazia pressão para o aumento do poder do parlamento. O rei, necessitando aumentar as riquezas do Estado, confisca as terras da Igreja, o que gera desentendimentos com o Papa. Isso se agrava quando o monarca solicita a anulação do casamento com Catarina de Aragão. Ele não tinha sucessores masculinos, temia que seu trono caísse em mãos espanholas. Toda a nação, com medo deste fato, apóia esse pedido. O Papa Clemente VII nega o pedido. O Rei rompe com o papado e faz uma reforma na Igreja Inglesa. Obriga seus membros a reconhecê-lo como chefe supremo e a jurar-lhe fidelidade e obediência. Obtém do clero inglês o divórcio e se casa com uma dama da corte, Ana Bolena. O Papa tenta intimidá-lo excomungando-o, mas não adianta. Em 1534, Henrique VIII decreta o Ato de Supremacia, que consolida a separação entre a Inglaterra e o papa. Torna-se o chefe da Igreja de seu país. A Reforma anglicana, na prática, apresenta poucas modificações com a Igreja romana: Questiona o Culto aos santos; A autoridade máxima é o Rei e não o papa; Questiona o culto às relíquias; Prega a popularização da leitura da Bíblia. A Reforma anglicana resolveu, na prática, dois problemas para a monarquia: a questão da herança do trono e com a venda das terras da Igreja para a burguesia e nobreza, dá um suporte financeiro para a Coroa.

OBSERVAÇÃO - O Calvinismo também criou raízes na Inglaterra. Seus adeptos, os puritanos, iriam entrar em choque com os anglicanos, gerando inúmeros conflitos no século XVII, que levaram às imigrações maciças para a região da Nova Inglaterra, na América do Norte.

A REFORMA ANABATISTA

THOMAS MÜNTZER (1489 - 1525) liderou uma revolta em 1524 com camponeses da região do Reno. Além de atacar a Igreja pela cobrança de dízimos, passam a reivindicar a reforma agrária e a abolição dos privilégios feudais. Ele afirmava ser Luterano. O movimento se espalhou por várias regiões alemãs com assaltos a castelos, queima dos mosteiros e roubo de colheitas. A essas manifestações, seguiu-se uma repressão violenta, apoiada por Lutero em prol da Nobreza alemã. Müntzer foi preso e decapitado e houve o massacre de milhares de camponeses. Ele foi um dos grandes pregadores do ANABATISMO (os convertidos são batizados na idade adulta, mesmo já sendo batizados quando criança). Tinham a necessidade de rebatizar os indivíduos, de separar a Igreja e o Estado, de abolir as imagens e o culto dos santos, queria uma igualdade absoluta entre os homens, viver com simplicidade, pois todos eram inspirados pelo Espírito Santo. Uma das principais questões de sua formulação teológica é a igualdade. Através do sacrifício de Cristo na cruz todos os homens se tornaram iguais perante Deus e livres do “jugo do pecado”. Com base nisso, Müntzer coloca no mesmo patamar tanto os senhores como os servos e é criticado por Lutero, uma vez que estaria reduzindo a liberdade a algo meramente carnal. Esse traço do pensamento de Müntzer (associado ao lema "omnia sunt communia") foi interpretado por alguns como uma formulação pré-socialista. No entanto, o que está em questão é algo muito diferente do socialismo do século XIX e à preocupação em se viver, em todos os sentidos, segundo a natureza humana do Filho de Deus. Com a decapitação do teólogo Thomas Müntzer, a 27 de maio de 1525, terminou a Guerra dos Camponeses, responsável pela morte de pelo menos cinco mil pessoas na região da Alemanha. Seus adeptos foram fortemente reprimidos seja nos Estados Católicos, Luteranos ou Calvinistas.

A Contra-Reforma ou Reação Catótica


O avanço do Protestantismo, não só neste momento, levou a Igreja Romana a se reorganizar. Foi um movimento de reação ao protestantismo também chamado de “Reação Católica”. A Igreja precisava se auto-reformar ou não sobreviveria, pois precisava, ainda, evitar que outras regiões virassem protestantes. Esse movimento de reforma interna já existia, mas é nesse momento que ele é aprofundado. Entre 1545 e 1563, foi convocado o CONCÍLIO DE TRENTO, pelo papa Paulo III (1534-1549) onde houve reafirmações e mudanças. O Concílio de Trento foi o mais longo da história da Igreja: é chamado Concílio da Contra-Reforma. Emitiu numerosos decretos disciplinares. O concílio especificou claramente as doutrinas católicas quanto à salvação, os sacramentos e o cânone bíblico, em oposição aos protestantes e estandardizou a missa através da igreja católica, abolindo largamente as variações locais. A nova missa estandardizada tornou-se conhecida como a "Missa Tridentina", com base no nome da cidade de Trento, onde o concílio teve lugar. Regula também as obrigações dos bispos e confirma a presença de Cristo na Eucaristia. São criados seminários como centros de formação sacerdotal e reconhece-se a superioridade do papa sobre a assembléia conciliar. É instituído o índice de livros proibidos Index Librorum Prohibitorum e reorganizada a Inquisição.

Eleito Papa em 13 de Outubro de 1534, procurou reformar a Igreja. Paulo III provou a criação da Companhia de Jesus de Inácio de Loyola em 1540. Convocou o Concílio de Trento em 1545. Excomungou Henrique VIII de Inglaterra, mas não conseguiu travar a Reforma Protestante. Concedeu a Inquisição em Portugal a D. João III. Lançou as bases da Contra-Reforma. Após a morte de Paulo III, assume o pontificado o papa Júlio III (1550-1555). Em 1536 foi nomeado cardeal-bispo de Palestrina pelo Papa Paulo III, a quem serviu em importantes legações; ele foi o primeiro a presidir ao Concílio de Trento, abrindo a primeira sessão em Trento, em 13 de Dezembro de 1545, com uma breve oração. Durante o concílio, foi o líder do partido papal contra o imperador Carlos V, com quem entrou em conflito por variadas vezes, especialmente quando, em 26 de Março de 1547, transferiu o Concílio para Bolonha. Foi sucedido pelo papa Marcelo II (9 de abril de 1555 - 1 de maio de 1555), que faleceu provavelmente por causa de sua constituição débil e pela fadiga acumulada ao fim de 21 dias de pontificado. Essa nova eleição papal atrasou as reformas. Foi eleito para seu lugar o papa Paulo IV (1555-1559). Foi nomeado cardeal em 1536 e após o curtíssimo pontificado de Marcelo II, foi eleito papa em 23 de maio de 1555, apesar da decidida oposição dos cardeais do partido ligado ao imperador Carlos V. Mesmo com idade avançada, o papa, que assumiu o nome de Paulo IV, dedicou seus anos de governo, sobretudo à organização da Inquisição romana, fundada por Paulo III graças à sua sugestão, e à reconstrução administrativa e moral das altas hierarquias católicas.

Foi Papa de 25 de Dezembro de 1559, o papa Pio IV (1559-1565), sendo o 225º papa. Contaminado pelo nepotismo, mudou a política anti-imperial do Papa anterior, Paulo IV e conseguiu concluir o concílio de Trento (1562-1563) cujos decretos começaram a ser aplicados nos últimos dois anos de seu pontificado. Publicou um novo Índice de Livros Proibidos em 1564 e reformou o Sacro Colégio. A pedido do imperador, permitiu a Eucaristia sob as duas espécies a alemães, austríacos e húngaros em 1564 para frear o avanço do protestantismo. Fracassou porem esse seu intento no leste da Alemanha, França e Inglaterra, embora se abstivesse de excomungar a Rainha Elizabeth I. Condenou a Simonia.

O Concílio acabou sendo dividido em três períodos:

1º Período (1545-48) — Celebraram-se 10 sessões, promulgando-se os decretos sobre a Sagrada Escritura e tradição, o pecado original, a justificação e os sacramentos em geral e vários decretos de reforma;

2º Período (1551-52) — Celebraram-se 6 sessões, continuando a promulgar-se, simultaneamente, decretos de reforma e doutrinais ainda sobre sacramentos em geral, a eucaristia, a penitência, e a extrema-unção. A guerra entre Carlos V e os príncipes protestantes constituiu um perigo para os padres de Trento;

3º Período (1562-63) — Convocado pelo Papa Pio IV, foi presidido pelos legados cardeais Ercole Gonzaga, Seripando, Osio, Simonetta e Sittico. Estiveram ainda no concílio os cardeais Cristoforo Madruzzo, bispo de Trento e Carlos Guise. O Papa enviou os núncios Commendone e Delfino aos príncipes protestantes do império reunidos em Naumburgo, e Martinengo à Inglaterra para convidar os protestantes a virem ao concílio. Neste período realizaram-se 9 sessões, em que se promulgaram importantes decretos doutrinais, mas, sobretudo decretos eficazes para a reforma da Igreja. Assinaram as suas actas 217 padres oriundos de 15 nações.

Eis as mais importantes resoluções vistas no Concílio de Trento:

- Esclarece a Doutrina, conserva os sete Sacramentos e confirma os Dogmas;
- Afirma a presença real de Cristo na Eucaristia, a Transubstanciação;
- Inicia a redação de um Catecismo; Criação de Seminários para a formação de sacerdotes;
- Reafirma o Celibato, a veneração aos Santos e a Virgem;
- Aprova os Estatutos da Companhia de Jesus, criada antes do Concílio por Inácio de Loyola;
- Mantém o Latim como língua do Culto e tradução oficial das Sagradas Escrituras;
- Organizou a disciplina do clero: os padres deveriam estudar e formar-se em seminários. Não poderiam ser padres antes dos 25 anos, nem bispos antes dos 30 anos;
- Reafirmava a infalibilidade do papa e o dogma da Transubstanciação;
- Confirma como texto autêntico, a tradução de São Jerônimo, no século IV; Fortalece a Hierarquia e, portanto a unidade da Igreja Católica, ao afirmar a supremacia do Papa como “Pastor Universal de toda a Igreja”
- Revê a prática das Indulgências, condenando os abusos. Revê a Simonia
- Reorganizou o tribunal da Inquisição ou Santo Ofício, que fica encarregado de combater a Reforma;
- Criação do “Índex” (índice), encarregada da censura de obras impressas, lista de livros cuja leitura era proibida aos fiéis;



Professor Juberto Santos