quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Sacerdócio na História (Parte III)

Padres na Idade da Reforma

A Idade Moderna é o período compreendido entre a queda do Império Romano do Oriente, em 1453, e a Revolução Francesa, em 1789. Ao contrário da Idade Média, que totaliza quase um milênio, a Idade Moderna durou pouco mais de 300 anos. Mesmo assim, pode ser considerada uma das fases mais importantes da Igreja Católica. Prova disso é que foi durante a Idade Moderna – mais precisamente a partir de 1563 – que surgiram os primeiros seminários.

“Na Idade Média, a maioria dos padres ainda não tinha conhecimento acadêmico ou formação teológica. Muitos eram analfabetos e não sabiam, sequer, ler o Novo Testamento. Mas isso não inviabilizou o fato de eles se sentirem chamados por Deus para pastorear o seu rebanho”, ressalva o Professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), André Chevitarese.

Numa época marcada por uma crescente alfabetização – como a Idade Moderna –, muitos padres não conseguiram mais corresponder às expectativas do povo cristão. “Na maioria das vezes, os candidatos ao baixo clero recebiam uma formação prática, em que o pároco ensinava suas funções, sem deter-se em aspectos teológicos”, reforça o Professor de Ciência da Religião da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), Douglas Nassif Cardoso.

A criação de seminários para cuidar da formação dos futuros padres foi apenas uma das decisões tomadas pela Igreja no famoso Concílio de Trento – realizado na cidade de mesmo nome, ao norte da Itália, entre os anos de 1545 e 1563. Segundo o Assessor da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Padre Reginaldo de Lima, o Concílio de Trento apresentou “um conjunto de decisões destinadas a garantir a unidade da fé católica e a disciplina eclesiástica”.

“Reagindo às ideias protestantes, o Concílio de Trento reafirmou diversos pontos da doutrina católica, como a salvação humana, a fixação dos sete sacramentos e a manutenção do celibato. Em Trento, o Papa reafirmou sua posição de sucessor de Pedro – a quem Jesus Cristo confiou a construção de sua Igreja”, enfatiza Padre Reginaldo de Lima.


- O Concílio de Trento

Convocado pelo Papa Paulo III, em 1545, o Concílio de Trento reuniu, em sua sessão inaugural, apenas 30 bispos católicos e uns poucos teólogos luteranos. Neste dia, foram discutidos temas importantes como a justificação pela fé e pelas boas obras, a obrigação dos bispos de residir nas dioceses, a reafirmação do Credo Niceno como a base da fé cristã e a fixação dos sacramentos em sete: Batismo, Confirmação ou Crisma, Comunhão ou Eucaristia, Reconciliação ou Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio.

Com algumas interrupções, o Concílio de Trento durou, ao todo, 18 anos. Na última sessão, realizada em 1562, defendeu a crença no livre-arbítrio do homem e refutou a tese luterana da fé exclusiva. Para a Igreja Católica, a esperança e a caridade também são necessárias à salvação. Quando o Concílio de Trento foi finalmente encerrado, em 1563, os 255 bispos presentes à cerimônia pediram ao Papa que instituísse um catecismo (originalmente apenas para uso dos párocos) com os pontos fundamentais da doutrina católica. “O Concílio de Trento foi a grande Reforma Católica. Foi o concílio mais longo e suas decisões foram as mais duradouras da Igreja. O concílio seguinte (Vaticano I) realizou-se apenas na segunda metade do século XIX”, afirma o Professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Ziller Camenietzki.

A Reforma Católica injetou ânimo novo em todos os segmentos da Igreja. Os padres começaram a encorajar os fiéis a se confessar mais habitualmente e a nutrir especial devoção ao sacramento da Eucaristia. Magníficas custódias – nome dado aos ostensórios, geralmente de ouro ou de prata, nos quais se depositam a hóstia consagrada para adoração dos fiéis – passaram a ocupar lugar de destaque dentro das igrejas e basílicas. Logo, procissões eucarísticas se tornaram cada vez mais populares. “A Igreja Católica reafirmou que, no ato da Eucaristia, ocorre a presença real de Cristo no Pão e no Vinho”, explica Padre Reginaldo de Lima, da CNBB, “Essa presença real do Cristo na Eucaristia era rejeitada pelos protestantes”.

Por inspiração do Concílio de Trento, a literatura devocional tornou-se mais acessível à população. Embora Roma – a princípio – desencorajasse a leitura leiga da Bíblia e se apegasse à Vulgata latina, em 1752 novas traduções foram permitidas pela Igreja Católica desde que com a devida autorização eclesiástica. No final do século XVIII, a Bíblia já havia sido traduzida para mais de 70 idiomas, como alemão, italiano, espanhol, francês e português.

No campo da música, o Concílio de Trento proibiu o uso de melodias profanas em contexto sacro. E recomendou que as letras fossem mais edificantes e inteligíveis. O final do século XVII testemunhou o florescimento da música sacra. Hinos, motetos e salmodias tornaram-se populares. As cidades começaram a competir entre si para ver qual delas tinha o melhor coro e a melhor orquestra. Concertos sacros com música baseada em textos bíblicos passaram a ser executados nos oratórios (capelas de oração). Em pouco tempo, o alemão George Friedrich Häendel tornou-se o maior de todos os compositores de oratórios.

A Idade Moderna foi marcada também pelo surgimento de novas ordens religiosas. “As diversas ordens fundadas no século XVI, como capuchinhos, lazaritas e barnabitas, entre outras, representavam movimentos reformadores fiéis à tradição do papado e em oposição aos diversos tipos de protestantismo”, analisa o Professor Douglas Nassif Cardoso, da UMESP. Das novas ordens, a que causou mais impacto foi a Companhia de Jesus, fundada na primeira metade do século XVI por Inácio de Loyola. Além de fazer votos de pobreza, obediência e castidade, os jesuítas juravam obedecer ao Papa e empreender qualquer tarefa que o Sumo Pontífice julgasse necessária.


- Santo Inácio de Loyola

“Os jesuítas foram os grandes combatentes da Reforma Católica. Eles encarnaram as propostas do Concílio de reorganização centralizada da Igreja ao missionarem por todos os lugares do mundo onde conseguiram chegar. Eles deram um tom prático às propostas de reforma da Igreja Católica”, afirma o Prof. Carlos Ziller Camenietzki, da UFRJ. De fato, missionários cristãos – principalmente frades dominicanos, franciscanos, agostinianos e, mais tarde, jesuítas – começaram a levar a Palavra de Deus aos confins mais distantes da Terra, como Índia, Japão e China. Além de países da América Latina, como o Brasil. “A catequese dos povos recém-descobertos era uma das estratégias dos jesuítas para expandir o domínio católico”, resume o Padre Reginaldo de Lima.

E, na Idade Contemporânea, como viviam os padres? Quem foi João Batista Maria Vianney, o Cura D’Ars? Qual é a importância do Concílio Vaticano II para a Igreja Católica? É verdade que a missa deixou de ser celebrada em latim durante a Idade Contemporânea? Quais são os principais desafios a ser enfrentados pelos padres no século XXI? Não percam essas e outras respostas na quarta e última parte da série especial sobre o Ano Sacerdotal na próxima terça-feira...

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