Os Padres na Idade Contemporânea
A Idade Contemporânea teve início com a Revolução Francesa, em 1789, e se estende até os dias de hoje. A Revolução Francesa é um movimento político e social que transformou profundamente a França de 1789 a 1799. Sob o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, a burguesia revoltou-se contra a monarquia absolutista e, com o apoio popular, assumiu o poder. Entre outras medidas, os revolucionários acabaram com os privilégios da nobreza e do clero e livraram-se das instituições feudais do antigo regime.
“A partir da Revolução Francesa, houve uma separação entre Igreja e Estado. Com isso, os padres deixaram de ter uma renda assegurada pelo Estado. Por um lado, os sacerdotes tomaram consciência de que é preciso haver dedicação plena ao ministério. Por outro, os fiéis tomaram consciência de que é preciso sustentar o clero a partir de um dízimo, uma contribuição. Neste sentido, ganhou-se bastante com essa separação”, analisa o Padre Jesus Hortal Sánchez, Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
O final do século XVIII assistiu a uma assustadora tentativa de destruir o Cristianismo na França. O ataque começou logo após a tomada da Bastilha, episódio que marcou o início da Revolução Francesa. Os privilégios eclesiásticos foram abolidos e as propriedades da Igreja, nacionalizadas. Logo, o novo regime começou a interferir, também, na vida interna da Igreja ao declarar que padres e bispos deveriam ser eleitos por leigos. Pior: passou a restringir, ainda mais, a autoridade do Papa sobre a Igreja Católica na França. Durante o regime de terror, clérigos foram banidos e igrejas, saqueadas. Muitos padres e bispos perderam a cabeça sob a guilhotina acusados de contra-revolucionários.
Em meio ao turbilhão que tomou conta da França no final do século XVIII e início do XIX, um pastor apascentava calmamente o seu rebanho: João Batista Maria Vianney, o homem que se tornaria o padroeiro dos párocos. Ordenado padre em 1815, aos 29 anos, o Cura D’Ars é tido como um exemplo a ser seguido pelos sacerdotes. Incansável defensor do Sacramento da Penitência, era capaz de passar até 18 horas consecutivas ouvindo confissões e perdoando pecados. Logo, ficou famoso por sua humildade e sabedoria, expressas em frases como “É sempre primavera no coração que ama a Deus” e “Arrepender-se é sempre começar de novo”.
“João Batista Maria Vianney transformou-se num dos mais competentes confessores que a Igreja já teve. Inicialmente, não achavam que ele pudesse exercer essa função, devido a sua pouca instrução. Mesmo assim, ele se mostrou esforçado e perseverante. No confessionário, possuía uma forma elevada de ver as coisas, que se manifestava nos conselhos que dava aos fiéis. Por vezes, esquecia de si mesmo para doar-se aos outros. As palavras podem até marcar, mas os testemunhos arrastam. E, com certeza, João Batista Maria Vianney deixou um bonito testemunho para todos aqueles que optam por uma vida religiosa”, enaltece Juberto Santos, Professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A exemplo do que aconteceu nas Idades Média e Moderna, novas ordens missionárias continuaram a surgir na Idade Contemporânea, como os maristas (fundada em 1817) e os salesianos (em 1859). A essa altura, igrejas já haviam sido fundadas em quase todos os continentes. Mas os missionários fizeram mais do que levar a Palavra de Deus. Eles também alimentavam os famintos, abrigavam os órfãos, ensinavam os analfabetos, condenava os regimes de escravidão e denunciavam os de tráfico de drogas. Para eles, a ordem dada por Cristo aos seus primeiros discípulos de evangelizar todos os povos era, na verdade, uma ordem pessoal dada por Cristo aos cristãos de todas as épocas.
Mas aqueles que optaram por evangelizar todos os povos precisaram (e muito!) do testemunho de João Batista Maria Vianney para não desistir de seu ministério mesmo diante das muitas provações surgidas na Idade Contemporânea. O período é marcado não só pelos grandes movimentos revolucionários europeus que derrubaram o absolutismo, mas também pelo surgimento do imperialismo, por duas guerras de proporções mundiais, pela explosão da Guerra Fria e pelo fenômeno da globalização. Na antiga URSS, logo após a tomada do poder pelos comunistas, mais de mil padres e bispos foram executados e centenas de mosteiros, destruídos. Durante a Segunda Guerra Mundial, o terror se repetiu. Na maioria dos países sob ocupação nazista, como França, Holanda e Polônia, padres e freiras foram presos, torturados e mortos.
A Idade Contemporânea, no entanto, testemunhou também dois grandes momentos de renovado entusiasmo espiritual da Igreja Católica: os Concílios Vaticano I e II. Em 1870, durante o papado de Pio IX, a Igreja promulgou o Concílio Vaticano I – o primeiro desde o Concílio de Trento, de 1545. Nele, a Santa Sé definiu a infalibilidade papal. Em outras palavras, o Espírito Santo jamais permitiria que a Igreja incorresse em erro seja em ponto essencial da fé ou da moral. Uma curiosidade: o Papa Pio IX, nascido Giovanni Maria Mastai-Ferreti, é responsável pelo papado mais longo da História da Igreja. Ele reinou de 1846 a 1878 – ou, para ser mais exato, por 31 anos e 236 dias.
- Papa João XXIII
Já o Vaticano II foi convocado pelo Papa João XXIII, em 1962, e durou três anos. O Sumo Pontífice explicou que queria reunir os bispos para ‘por a Igreja em dia’ e proclamou os participantes a ‘buscar aquilo que une em vez daquilo que divide’. “O Concílio Vaticano II permitiu que a Igreja Católica entrasse em diálogo com o mundo contemporâneo. E, principalmente, com outras confissões cristãs”, destaca Douglas Nassif Cardoso, Professor de Ciências da Religião da Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).
Infelizmente, o Papa João XXIII morreu sem ver um dos momentos mais belos do Concílio Vaticano II. Em 7 de dezembro de 1965, o Papa Paulo VI (que sucedeu João XXIII) e o patriarca Atenágoras publicaram uma declaração conjunta lamentando os terríveis eventos que levaram ao Cisma de 1054: “Um dia virá em que todos os cristãos beberão do mesmo cálice”, declarou, na ocasião, o Papa Paulo VI. Era uma tentativa da Igreja Católica de reduzir uma divisão de 900 anos com a Igreja Ortodoxa. “Algumas pessoas estranharam as modificações feitas pelo Concílio Vaticano II, mas a Igreja é parte da Humanidade. Logo, se esta muda, aquela também precisa renovar os meios práticos e discursivos para continuar levando a mensagem do Evangelho”, analisa Carlos Engemann, Professor do Instituto Superior de Teologia do Rio de Janeiro.
Mas qual teria sido a mais notável modificação promovida pelo Concílio Vaticano II? Na opinião do Professor Carlos Engemann, foi a renovação litúrgica. Após ser rezada em latim por vários séculos, a missa poderia, a partir de então, ser celebrada na língua local do povo. “Partindo do princípio de que a liturgia é a fonte primordial onde o cristão deve beber, a renovação litúrgica para qual é convidado o povo pelo Concílio Vaticano II tem como principal objetivo ensejar a participação. Isso nos trouxe uma mudança bastante interessante. Nos tempos dos mais velhos, dizia-se ‘ouvir a missa’. Depois, passou-se a dizer ‘assistir a missa’. Agora, o mais frequente entre os católicos é dizer ‘participar da missa’. E não se trata apenas de uma mudança linguística”, assegura Engemann.
Atualmente, segundo estimativas do Anuário Estatístico da Igreja Católica, cerca de 17,3% da população mundial “participa da missa”. Esse percentual corresponde a 1 bilhão e 115 milhões de católicos. De acordo com o mesmo levantamento, o número de sacerdotes católicos, em 2006, é de 407.262. Deste total, 271.091 são diocesanos e 136 mil, religiosos. Para o Professor Carlos Engemann, os desafios enfrentados hoje pelos padres da Idade Contemporânea são os mesmos enfrentados por seus antecessores nas Idades Antiga, Média e Moderna: “amar o povo que pastoreia e ser para ele o Bom Pastor”.
O Padre Jesus Hortal, da PUC-RJ, concorda. Em sua opinião, o padre do século XXI deve ser alguém com “plena consciência da relevância do seu papel de presença do Cristo no meio dos fiéis”. “O padre do século XXI deve ser alguém com uma consciência muito clara de sua dedicação plena ao ministério. E alguém absolutamente coerente com o que diz e o que faz. Talvez o maior desafio seja o de realizar uma evangelização eficaz no meio de uma sociedade altamente secularizada e cada vez mais afastada dos valores morais cristãos”, conclui.
Fonte:
http://www.arquidiocese.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2214&sid=39
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