Padres na Idade Média
Idade Média é o período histórico que abrange desde a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, até a tomada de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, em 1453. Ao longo de seus quase mil anos de História, o período medieval ficou conhecido, entre outras características, pela fundação de universidades, pelo florescimento da cultura, pelo renascimento das artes e, principalmente, pela expansão do Cristianismo. O professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), André Chevitarese, é dos que afirmam que nem tudo no período medieval ligado à Igreja Católica se resume à Inquisição – tribunal eclesiástico instituído em 1231 com o objetivo de combater heresias – ou às cruzadas – expedições militares que levaram milhares de cavaleiros cristãos à Palestina para reconquistar lugares sagrados, como Jerusalém. “Do ponto de vista histórico-cultural, o período medieval foi o grande responsável pela perpetuação da memória através da transcrição de textos antigos. Se não fosse o trabalho de inúmeros monges copistas, não teríamos muita coisa a falar sobre períodos anteriores a Gutenberg”, valoriza Chevitarese.
- São Bento
De fato, transcrever textos da Antiguidade, principalmente os clássicos gregos e romanos, era uma das principais atribuições de algumas ordens monásticas, como os beneditinos, por exemplo. Segundo as normas estabelecidas por São Bento, em 525, os monges deveriam estudar, trabalhar e rezar. Não por acaso, “ora e labora” é a regra monástica da Ordem Beneditina. “O ócio é inimigo da alma”, alertava São Bento. Os mosteiros da Idade Média pareciam verdadeiras cidades. Tinham uma igreja ao centro, dormitório (geralmente dividido em celas), refeitório, biblioteca, oficina e até um abrigo para peregrinos. “Há uma leitura de que a classe religiosa seria vista unicamente como exploradora na medida em que era proprietária de terras. Poucos sabem, porém, que era através do dinheiro dos impostos que os monges podiam comprar papiros e manter grandes bibliotecas”, esclarece Chevitarese. Nos mosteiros, além de copiar documentos antigos, os monges trabalhavam, ainda, no cultivo de trigo, cevada e centeio, e na criação de porcos, vacas e galinhas.
Professor de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Frei Izidoro Mazzarolo concorda com André Chevitarese. Segundo ele, a Idade Média foi muito mais do que simplesmente cruzadas e Inquisição. Foi no período medieval, inclusive, que surgiram algumas das mais importantes ordens religiosas, como os franciscanos e os dominicanos. “A principal característica da figura sacerdotal na Idade Média é a volta às origens. Estou me referindo àquele segmento religioso que se propunha a imitar radicalmente a figura do Cristo. O mesmo Cristo que, segundo o Evangelho, não tinha onde repousar a cabeça”, analisa Frei Isidoro Mazzarolo, numa referência ao Evangelho de Mateus 8, 20. “Cada uma dessas ordens religiosas tinha uma característica especial. Enquanto os dominicanos priorizavam o ensino acadêmico, os franciscanos se destacavam pelo serviço aos pobres”, explica.
- São Domingos
São Domingos e São Francisco de Assis foram, indiscutivelmente, dois dos maiores representantes da Igreja Católica no período medieval. A Ordem dos Frades Menores, fundada por São Francisco em 1209, e a Ordem dos Pregadores, por São Domingos em 1215, significaram uma mudança em relação às ordens monásticas tradicionais. Ao contrário dos beneditinos, que viviam em mosteiros e abadias, franciscanos e dominicanos moravam em conventos, geralmente mais próximos às cidades. “Tanto os monges quanto os frades têm características semelhantes: há membros que são ordenados e membros que não são. Internamente, são todos iguais. Todos se chamam de irmãos. A diferença é que, enquanto uns podem celebrar a missa, outros se dedicam apenas a cuidar de serviços internos”, destaca Frei Isidoro.
Mas e os chamados padres diocesanos? Qual seria a principal diferença deles em relação aos padres religiosos? É o próprio Frei Isidoro quem responde: “Os padres religiosos, como os franciscanos e dominicanos, dependem de um superior eleito pelos membros daquela comunidade. Já os diocesanos não escolhem, em tese, seu bispo. O bispo é nomeado pelo papa ou pelo núncio apostólico (embaixador da Santa Sé). Além disso, outra característica marcante das ordens religiosas é a mobilidade. Normalmente, os padres diocesanos trabalham por muitos anos em uma mesma diocese. Já os religiosos não têm endereço certo. Podem trabalhar em muitas dioceses”, compara Frei Isidoro. Diocesanos ou religiosos, os padres viram crescer (e muito!) o número de fiéis na Idade Média. Naquela época, a população assistia à missa não só aos domingos, mas também nos dias santos. Embora só os padres, monges e frades tivessem a oportunidade de comungar todos os dias, a Igreja Católica já recomendava que todo cristão recebesse a Eucaristia, pelo menos, por ocasião da Páscoa. No período medieval, a missa era celebrada em latim e, em algumas basílicas, já havia um coro que entoava cânticos religiosos – também em latim. A assembleia não participava ativamente da celebração. Em algumas paróquias, os padres franciscanos faziam uma invocação a Deus e a comunidade respondia: “Laudate Dominum” – que significa “Louvai ao Senhor”. O sermão já não era mais o único modo de se pregar a Palavra de Deus para uma população quase toda ela composta por camponeses analfabetos. Temas bíblicos eram talhados nas paredes e pintados nos vitrais das igrejas com o objetivo de ensinar, quase que didaticamente, passagens do Antigo e do Novo Testamento para as camadas mais humildes da sociedade. Imagens de santos começaram a ser usados em lugares de destaque nas igrejas para encorajar os fiéis a imitá-los no amor a Deus.
As obrigações dos padres eram as mais variadas possíveis: de celebrar a missa a coletar o dízimo, de visitar os doentes a abençoar as colheitas da paróquia. No século XIV, algumas paróquias já tinham, inclusive, pequenas escolas, dirigidas pelos próprios padres ou pelo sacristão. Lá, os clérigos ensinavam às crianças, basicamente, o Pai-Nosso, a Ave Maria, o Credo, os dez mandamentos e os sete pecados capitais. “Na Idade Média, os padres diocesanos já viviam exclusivamente do ministério. Mas isso não impedia que, por exceção, alguns também exercessem atividades paralelas. É como acontece nos dias de hoje, quando muitos padres diocesanos também lecionam em universidades”, ressalta Frei Isidoro Mazzarolo.
Com tantos afazeres, os padres ainda conseguiam se dividir entre o matrimônio e o sacerdócio? “O celibato começou a ser discutido no século IV, mas só foi homologado no século XII. Até a homologação do celibato, ele era opcional. A partir do século VII, passou a ser aconselhado. Mas, no século XII, o celibato foi sacramentado. Ainda hoje, no Oriente, os sacerdotes têm duas opções: o celibatário e o casado. Mas há um detalhe importante: só os celibatários podem seguir carreira episcopal”, esclarece Frei Isidoro. Mas e o que pensam os historiadores da tese de que os padres não podem casar para não dividir os bens da Igreja? Para André Chevitarese, essa tese não passa de um “equívoco”. “A questão do casar ou não casar se aplica a uma passagem do Evangelho onde Jesus diz: ‘Há eunucos que nasceram eunucos e outros que se fizeram eunucos por causa do Reino do Céu’ (Mt 19,12). Nesta passagem, Jesus estabelece modelos de vida religiosa. É preciso que se entenda que toda e qualquer decisão da Igreja é respaldada em contextos bíblicos. Dizer que os padres não podem casar para evitar brigas judiciais é remeter a Igreja a uma esfera estritamente humana”, assegura Chevitarese.
E, na Idade Moderna, como viviam os padres? Quem foi Martinho Lutero e o que significou a Reforma Protestante? E a Contra-Reforma, o que foi? Qual é a importância do Concílio de Trento para a Igreja Católica? É verdade que os primeiros seminários surgiram na Idade Moderna?
Mas e os chamados padres diocesanos? Qual seria a principal diferença deles em relação aos padres religiosos? É o próprio Frei Isidoro quem responde: “Os padres religiosos, como os franciscanos e dominicanos, dependem de um superior eleito pelos membros daquela comunidade. Já os diocesanos não escolhem, em tese, seu bispo. O bispo é nomeado pelo papa ou pelo núncio apostólico (embaixador da Santa Sé). Além disso, outra característica marcante das ordens religiosas é a mobilidade. Normalmente, os padres diocesanos trabalham por muitos anos em uma mesma diocese. Já os religiosos não têm endereço certo. Podem trabalhar em muitas dioceses”, compara Frei Isidoro. Diocesanos ou religiosos, os padres viram crescer (e muito!) o número de fiéis na Idade Média. Naquela época, a população assistia à missa não só aos domingos, mas também nos dias santos. Embora só os padres, monges e frades tivessem a oportunidade de comungar todos os dias, a Igreja Católica já recomendava que todo cristão recebesse a Eucaristia, pelo menos, por ocasião da Páscoa. No período medieval, a missa era celebrada em latim e, em algumas basílicas, já havia um coro que entoava cânticos religiosos – também em latim. A assembleia não participava ativamente da celebração. Em algumas paróquias, os padres franciscanos faziam uma invocação a Deus e a comunidade respondia: “Laudate Dominum” – que significa “Louvai ao Senhor”. O sermão já não era mais o único modo de se pregar a Palavra de Deus para uma população quase toda ela composta por camponeses analfabetos. Temas bíblicos eram talhados nas paredes e pintados nos vitrais das igrejas com o objetivo de ensinar, quase que didaticamente, passagens do Antigo e do Novo Testamento para as camadas mais humildes da sociedade. Imagens de santos começaram a ser usados em lugares de destaque nas igrejas para encorajar os fiéis a imitá-los no amor a Deus.
As obrigações dos padres eram as mais variadas possíveis: de celebrar a missa a coletar o dízimo, de visitar os doentes a abençoar as colheitas da paróquia. No século XIV, algumas paróquias já tinham, inclusive, pequenas escolas, dirigidas pelos próprios padres ou pelo sacristão. Lá, os clérigos ensinavam às crianças, basicamente, o Pai-Nosso, a Ave Maria, o Credo, os dez mandamentos e os sete pecados capitais. “Na Idade Média, os padres diocesanos já viviam exclusivamente do ministério. Mas isso não impedia que, por exceção, alguns também exercessem atividades paralelas. É como acontece nos dias de hoje, quando muitos padres diocesanos também lecionam em universidades”, ressalta Frei Isidoro Mazzarolo.
Com tantos afazeres, os padres ainda conseguiam se dividir entre o matrimônio e o sacerdócio? “O celibato começou a ser discutido no século IV, mas só foi homologado no século XII. Até a homologação do celibato, ele era opcional. A partir do século VII, passou a ser aconselhado. Mas, no século XII, o celibato foi sacramentado. Ainda hoje, no Oriente, os sacerdotes têm duas opções: o celibatário e o casado. Mas há um detalhe importante: só os celibatários podem seguir carreira episcopal”, esclarece Frei Isidoro. Mas e o que pensam os historiadores da tese de que os padres não podem casar para não dividir os bens da Igreja? Para André Chevitarese, essa tese não passa de um “equívoco”. “A questão do casar ou não casar se aplica a uma passagem do Evangelho onde Jesus diz: ‘Há eunucos que nasceram eunucos e outros que se fizeram eunucos por causa do Reino do Céu’ (Mt 19,12). Nesta passagem, Jesus estabelece modelos de vida religiosa. É preciso que se entenda que toda e qualquer decisão da Igreja é respaldada em contextos bíblicos. Dizer que os padres não podem casar para evitar brigas judiciais é remeter a Igreja a uma esfera estritamente humana”, assegura Chevitarese.
E, na Idade Moderna, como viviam os padres? Quem foi Martinho Lutero e o que significou a Reforma Protestante? E a Contra-Reforma, o que foi? Qual é a importância do Concílio de Trento para a Igreja Católica? É verdade que os primeiros seminários surgiram na Idade Moderna?
Fonte: http://www.arquidiocese.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2178&sid=39
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